Afinal foi Huntington quem tinha razão e não Fukuyama.
Do seu livro de 1996:
No entanto, aquela eleição [a presidencial de 1994] levantou a questão de a parte ocidental do país se separar da Ucrânia que estava mais perto da Rússia. Alguns russos concordariam. Como disse um general russo, «em cinco, dez ou quinze anos, a Ucrânia, ou melhor, a Ucrânia Oriental, voltará para nós. A Ucrânia Ocidental que vá para o inferno!» Contudo, essa Ucrânia, uniata e ocidentalista, só seria viável com uma forte e eficaz ajuda ocidental. Porém, tal ajuda só será provável se as relações entre o Ocidente e a Rússia se deteriorarem gravemente para se assemelharem às que existiam no período da guerra fria.
Samuel Huntington, op. cit, pág. 196.
E o Ocidente foi apanhado com as calças na mão. Pois que
vista as calças, que ainda vai a tempo.
Eslavos (excepto a maior parte dos ucranianos), Hindus, Chineses,
Islâmicos (xiitas e sunitas), e até as nações africanas, todos se comprazem em
ver a decadência da civilização Ocidental. Ressabiados da história e das
colonizações europeias, predatórias e genocidas, é verdade, voltam-se agora
contra nós. Narendra Modi negoceia petróleo barato com a Rússia, borrifando-se
completamente para o sofrimento do povo ucraniano. A cínica China, aguarda o enfraquecimento
do Ocidente, já muito dependente dela, para cair sobre Taiwan e o Mar do Sul da
China, e apoia a Rússia com uma indiferença despudorada em relação ao
sofrimento dos ucranianos.
A verdade é que as manifestações contra a guerra e a favor
da Ucrânia, só se avistam nas cidades do Ocidente. Houve alguma na cidade do
Cabo? No Cairo? Em Manila? Em Xangai? Em Istambul? Em Teerão? Em Nova Deli? Se
houve, então estivemos desatentos às notícias.
A globalização lançou o Ocidente na dependência de países
pouco recomendáveis, governados por ditadores e cleptocratas, fascistas e
paizinhos da pátria que se eternizam no poder dos seus países – erdogans, putins,
dutertes, orbans, que julgam ser eles mesmos as nações que governam. A
interdependência deveio em maior dependência de uns em relação a outros, e em particular
do Ocidente em relação à China e à Rússia. Foi o que se viu durante a fase mais
aguda da pandemia com a incapacidade imediata de se produzirem máscaras,
zaragatoas, ventiladores e muito material médico na Europa, que teve de
importar esse material da China.
O que nos espera é a proliferação nuclear, não só como elemento dissuasor, mas como instrumento de dominação política e económica sobre países vizinhos e desarmados, pela ameaça e pela chantagem.
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