sexta-feira, maio 19, 2017

Como Portugal criou o primeiro império global

«Este uso do terror será grandioso para a obediência a Vossa Alteza sem necessidade de os conquistar»
Afonso de Albuquerque

Roger Crowley narra-nos a impressionante história da entrada dos portugueses no Índico no início do século XVI. Como Portugal criou o primeiro império global? Lido o livro, a resposta à questão é extremamente simples. Portugal criou o primeiro império global através do terror. Um terror que aplicou com persistência e tenacidade. Onde quer que surgissem no mar, as enfunadas velas brancas com a vermelha cruz de Cristo pintada, a população dos lugares costeiros debandava. Fomos terroristas, piratas e corsários e aplicámos todo o hardpower para dominar a costa do Malabar, da África Oriental, do Golfo Pérsico e mais além. Chegámos a penetrar no ardente Mar Vermelho e ousámos trepar e atacar as muralhas de Adém. Fomos longe demais. O espírito que nos movia no início do século XVI era ainda o da cruzada medieval. O objectivo era matar o Islão no berço, passar o mouro à espada, sem dó nem piedade ou esmagá-lo por todas formas possíveis e imaginárias. Queimámos, esquartejámos, empalámos, enforcámos, retalhámos, massacrámos, pilhámos…

Conta o narrador que após a tomada de Goa os rios que envolviam a ilha ficaram rubros do sangue dos muçulmanos apanhados na orgia saqueadora, e que nem os crocodilos “conseguiram lidar com a fartura”. “Foi uma limpeza” escreveu Afonso de Albuquerque a Dom Manuel I.

A história de Portugal no Índico não foi uma coisa bonita de se ver.

E no entanto, ficamos perplexos com tanta bravura e crueldade.

O livro já vai na 6ª edição.

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