«Este uso do terror será grandioso para a obediência a Vossa Alteza sem
necessidade de os conquistar»
Afonso de Albuquerque
Roger Crowley narra-nos a impressionante
história da entrada dos portugueses no Índico no início do século XVI. Como Portugal
criou o primeiro império global? Lido o livro, a resposta à questão é
extremamente simples. Portugal criou o primeiro império global através do
terror. Um terror que aplicou com persistência e tenacidade. Onde quer que surgissem no mar, as enfunadas velas brancas com a vermelha cruz de Cristo pintada, a população dos
lugares costeiros debandava. Fomos terroristas, piratas e corsários e aplicámos
todo o hardpower para dominar a costa
do Malabar, da África Oriental, do Golfo Pérsico e mais além. Chegámos a penetrar
no ardente Mar Vermelho e ousámos trepar e atacar as muralhas de Adém. Fomos
longe demais. O espírito que nos movia no início do século XVI era ainda o da
cruzada medieval. O objectivo era matar o Islão no berço, passar o mouro à espada,
sem dó nem piedade ou esmagá-lo por todas formas possíveis e imaginárias. Queimámos,
esquartejámos, empalámos, enforcámos, retalhámos, massacrámos, pilhámos…
Conta o narrador que após a
tomada de Goa os rios que envolviam a ilha ficaram rubros do sangue dos muçulmanos
apanhados na orgia saqueadora, e que nem os crocodilos “conseguiram lidar com a
fartura”. “Foi uma limpeza” escreveu Afonso de Albuquerque a Dom Manuel I.
A história de Portugal no Índico
não foi uma coisa bonita de se ver.
E no entanto, ficamos perplexos
com tanta bravura e crueldade.
O livro já vai na 6ª edição.
Sem comentários:
Enviar um comentário