quarta-feira, abril 29, 2009

Vasco da Gama e a arte de “bem tratar” as gentes do Índico


Nestes tempos de retorno da pirataria ao Índico, mais precisamente nas águas somalis, e face ao humanismo demonstrado por holandeses (que libertaram os piratas e os enviaram numa embarcação para terra) e pelos actuais portugueses (cuja lei nacional os impede de deter piratas naquelas águas) lembrei-me de Vasco da Gama. Cantado e idolatrado pelos nossos maiores poetas – Camões e Pessoa – Vasco da Gama não passa de um vilão aos olhos de historiadores e filósofos contemporâneos.

Talvez não tenha sido por acaso que os japoneses quando avistaram as velas dos nossos barcos pela primeira vez (fomos os primeiros europeus a demandar as suas costas), nos chamaram “bárbaros do Sul”.

Eis o que dizem historiadores e filósofos contemporâneos do comportamento do nosso Vasco a quem, segundo os poetas, os deuses abriram as portas do céu:

«Quando da sua primeira viagem à Índia, em 1497, Vasco da Gama, sem motivo especial, mandou incendiar e afundar, depois de o ter pilhado, um navio mercante árabe, a bordo do qual se encontravam duzentos peregrinos que se dirigiam para Meca, incluindo mulheres e crianças – prelúdio a uma “história do mundo” dos crimes externos

Peter Sloterdijk, Palácio de Cristal, Relógio D’Água, pág. 122.

«Em 30 de Outubro [de 1502], Vasco da Gama, agora ao largo de Calecute, ordenou ao samorim que se rendesse e exigiu a expulsão da cidade de todos os muçulmanos. Quando o samorim contemporizou e mandou enviados para negociar a paz, Vasco da Gama replicou sem ambiguidade. Capturou no porto, ao acaso, um certo número de negociantes e pescadores, enforcou-os imediatamente, depois esquartejou os corpos, atirou mãos, pés e cabeças para uma embarcação que mandou para terra com uma mensagem em arábico na qual sugeriu ao samorim que utilizasse aqueles bocados de corpos de gente para fazer um caril.»

Daniel Boorstin, Os Descobridores, Gradiva, pp. 170-171

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