Lisboa tem medo.
Tem medo de perder o poder que julga ter, a sua proeminência em relação ao resto do país. Como se Lisboa fosse Portugal e o resto paisagem. Lisboa sente o poder escapar-lhe e tem medo. Tem medo de perder o “prestígio” que já não tem, se é que alguma vez o teve. Nunca se apercebeu que é uma cidade provinciana. Até Eça, ao escolher uma cidade a opor às suas serras, escolhe Paris. Paris é a Cidade, Lisboa não.
Lisboa tem medo que lhe retirem o aeroporto debaixo das suas saias e não se apercebe que as maiores capitais têm os seus aeroportos principais a dezenas de quilómetros do seu centro (curiosamente, Lisboa, não tem medo que lhe caia um avião em cima!).
Lisboa tem medo da auto-estrada que liga o Norte ao Sul do país, sem que seja necessário passar por ela. Que desconsideração!
Lisboa tem medo da regionalização – isso seria devolver o poder ao resto de Portugal, à “paisagem” – e Lisboa tem medo de perder o poder que ainda tem.
Lisboa é um sorvedouro de dinheiros públicos e privados e já é um escolho ao desenvolvimento do país. Concentra em si cada vez mais, os poucos recursos que o país produz ou possui. E numa situação de má gestão, de má política, numa situação desesperada, tudo quer para si, mesmo que isso signifique o empobrecimento progressivo das outras cidades e regiões. Em dias de apertado orçamento, o pouco que há, o pouco que ainda resta, vai para Lisboa. Lisboa é um buraco negro que colapsa sobre si mesmo. Resultado: noutros lugares e regiões, mais ou menos distantes deste país, encerram maternidades, escolas, postos de correio, esquadras da polícia, hospitais e centros de saúde, etc. Acelera-se o despovoamento do interior. As universidades de província definham e ameaçam encerrar. Há cursos que encerram com a falta de estudantes, disputados pelas numerosas universidades de Lisboa.
Mas o país não dorme e aos poucos apercebe-se que o seu desenvolvimento não passa por Lisboa. Esta é antes um desafio a vencer. Algumas cidades e regiões revelam um dinamismo potencial que não se vê em Lisboa, e começam a traçar caminhos que não passam por lá.
(*) - Lisboa, leia-se, os poderes e os "poderosos" que lá moram.