Atenienses, agradeço-vos e amo-vos, mas obedecerei antes ao deus do que a vós. Enquanto possuir um sopro de vida, enquanto for capaz, não conteis que eu deixe de filosofar, de vos exortar e de vos ensinar. A cada um daqueles que eu encontrar direi o que habitualmente digo ‘Como é que tu, excelente homem, que és ateniense e cidadão da maior cidade do mundo e da mais famosa pela sabedoria e poder, como é que não tens vergonha de pôr os teus cuidados em amealhar dinheiro o mais possível e em buscar a fama e as honrarias, ao passo que não tomas qualquer cuidado ou preocupação com o teu pensamento, com a verdade da tua alma?’
Platão, Apologia de Sócrates
Também nós, europeus, os da “terra do poente”, somos atenienses. Nós, os da grande Civilização Ocidental, somos atenienses. A questão de Sócrates ainda se coloca. Surge num momento em que Atenas inicia a sua decadência e Sócrates é condenado à morte pelos juízes, esses supostos defensores da Justiça, ultrapassados por ele, que em muito os transcendeu na defesa da Justiça.
Bem poderia também, ser um juramento deontológico para os que ensinam - Enquanto possuir um sopro de vida, enquanto for capaz, não conteis que eu deixe de filosofar, de vos exortar e de vos ensinar.
Hoje valorizamos o que é material, a fama e as honrarias e descuramos aquilo que é mais precioso, a liberdade, a alma, o pensamento, mas mais importante que tudo, a liberdade de pensamento.
Ter é tardar.
Fernando Pessoa, Mensagem