quarta-feira, março 21, 2012

Num caminho, na serra algarvia

Essa terra que te lambe os calcanhares enquanto caminhas,

Pelos caminhos de pó que não abriste, saúda-te! É Verão! E os cactos eriçados ao vento, lutam contra o caminho e afastam-te das margens conquistadas.

Aqui, consegues ouvir o som dos teus passos, ainda que o vento te apague as pegadas.

Aqui, no mundo longe do mundo, não soa um só murmúrio.

domingo, março 18, 2012

Tanto amor

Coreia do Norte, Manobras Militares, 2012 

domingo, março 04, 2012

O neoliberalismo enquanto uma “revolução do mercado”


Visto a partir da nossa época, é o ano de 1979 que deve ser qualificado de data-chave do final do século XX. De um triplo ponto de vista, foi nessa época que se entrou na situação pós-comunista: com o princípio do fim da União Soviética (após a invasão do Afeganistão pelo seu exército), com a chegada ao poder de Margaret Thatcher e com a consolidação da revolução islâmica no Irão, sob a liderança do aiatola Khomeini.
O chamado neoliberalismo, no fundo, mais não foi do que um novo cálculo dos custos da paz interna nos países de «economia mista» capitalista e social-democrata de estilo europeu ou do «capitalismo regulado» à maneira dos Estados Unidos. O resultado dessa auditoria foi uma conclusão inevitável: o partido dos chefes de empresa ocidentais pagara muito caro pela paz social, sob a pressão política e ideológica provisória do Leste. Considerou-se que chegara a hora de tomar medidas para reduzir os custos, medidas que, pela sua tendência, transferiram o centro de gravidade do primado do pleno emprego para a prioridade da dinâmica empresarial.”
(…)
O quarto de século que se seguiu à “revolução do mercado” concebida por Keith Joseph e implementada na Grã-Bretanha por Margaret Tatcher em 1979 (que logo se espalhou por todo o continente e por grande parte do mundo ocidental, em especial na América de Reagan, 1981-1988, e de Clinton, 1993 – 2001) mostrou com que precisão esses diagnósticos correspondiam à situação e a radicalidade das consequências que dela se extraíam. Tal manifesta-se com maior clareza na duradoura tendência do neoliberalismo – a longa marcha para o desemprego de massa que marcou o ritmo do ponto de vista sociopolítico. A nova situação levou ao que era impensável até então: as populações das nações europeias aceitaram, mais ou menos sem luta, taxas de desemprego de 8% a 10% ou mais – até mesmo as reduções cada vez mais sensíveis das prestações do Estado social não chegaram até agora para reacender as chamas da luta de classes. As relações de soberania inverteram-se de um dia para o outro: as organizações dos trabalhadores não têm muita coisa na manga para exercer a ameaça efectiva, pois o privilégio da ameaça passou quase exclusivamente para o lado dos empresários. Estes podem agora afirmar de maneira bastante plausível que tudo vai ser ainda pior se a parte adversa se recusar a entender e atender as novas regras do jogo.”

Peter Sloterdijk (2006), Cólera e Tempo. Relógio D’Água. 2010. Pág. 253-254

***

Vivemos já o tempo em que é o “partido dos chefes de empresa ocidentais” que mais ordena. De acordo com Sloterdijk, este domínio tornou-se total quando a alternativa que se podia contemplar a Leste deixou, de um dia para o outro, de existir. De acordo com o filósofo, um dos inesperados efeitos colaterais do comunismo soviético foi manter o “partido dos chefes de empresa ocidentais” em sentido, face à possibilidade ameaçadora da classe trabalhadora abraçar o sistema alternativo que se vislumbrava a Leste, caso não fossem satisfeitas as condições por ela ambicionadas, entre as quais o pleno emprego e a construção de um Estado social. Perante tal possibilidade, os “chefes de empresa” anuíram frente aos trabalhadores na concessão de tais condições e esse foi um factor que possibilitou a construção de um Estado social europeu. Quando a queda do bloco de Leste, por fim, afastou do horizonte essa possibilidade de secessão, o “partido dos chefes de empresa ocidentais” alterou o seu posicionamento e iniciou o desmantelamento do Estado social. Nas palavras do filósofo “o partido dos chefes de empresa ocidentais” apercebeu-se que afinal estivera a pagar um preço demasiado elevado pela paz social, pois o sistema que se vislumbrava a Leste afinal não era mais do que uma espécie de fachada. Não são de estranhar pois, as palavras de Margaret Thatcher, essa cabecilha do partido “dos chefes de empresa ocidental”, de que “Não há alternativa”. Foi nesse momento que o Bloco de Leste e em particular a União Soviética começavam a dar sinais de forte de erosão – a dificuldade em vencer no Afeganistão, por exemplo - anunciadores de um futuro desmoronamento. Ufanava-se então Thatcher, dizendo que já não havia alternativa pelo que agora o seu partido teria rédea solta para quebrar a espinha ao forte movimento sindical britânico e doravante poderia dar início ao desmantelamento do Estado social e à prossecução de políticas que privilegiavam a dinâmica empresarial em detrimento do primado do pleno emprego, até ai vigorante. O resultado da política neoliberal rapidamente se notou com o aumento galopante do desemprego, da pobreza e das desigualdades sociais. A sociedade - que na óptica de Thatcher era afinal coisa que não existia, pois para ela apenas haviam indivíduos ou grupos de indivíduos - tornou-se cada vez menos solidária, sendo a liberdade individual e o sucesso empresarial erigidos a valores fundamentais. O individualismo (o grande opositor do colectivismo) tornou-se o caldo de cultura destas sociedades dessolidarizadas.

Em Portugal, qual Albânia do Ocidente, registou-se sempre um hiato de décadas entre as tendências políticas que vigoram no estrangeiro e as que se fazem sentir no país. No entanto a ideia prevalecente entre a elite indígena de que o que vem de fora é que é bom, melhor e mais moderno, leva a que os nossos conterrâneos, ilustres iluminados e estrangeirados, acabem sempre por copiar essas modas ou tendências, ainda que algumas, entretanto, já tenham passado de moda lá fora. Isto para dizer que o neoliberalismo chegou tarde e a más horas a Portugal, mas chegou implacavelmente, primeiro de forma insinuante pela mão de José Sócrates que lhe preparou bem o terreno, e depois pela mão de Passos Coelho. Mas, na verdade, parece que o neoliberalismo ainda não passou de moda lá fora. Que o diga David Cameron do Partido Conservador, no poder no Reino Unido.

Hoje é o “partido dos chefes de empresa ocidental” e pior do que esse, o partido de Wall Street, que dominam o mundo ocidental, para não dizer o mundo inteiro*.
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Notas:

(*) - Ainda que hoje também existam, como sabemos, "partidos dos chefes de empresa" orientais e empresas estaduais chinesas, vivendo estas sob um regime de partido único.

sexta-feira, março 02, 2012

As soluções para a crise. Afinal é simples.


Mais competitividade.
Mais inovação.
Mais empreendedorismo.
Mais resiliência.
Mais confiança. (É preciso conquistar a confiança dos mercados! Irra!)
E mais flexibilidade.

Força Mike, força! Estou contigo!

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