Pouco tempo tem havido para
escrever nos
Trabalhos e os Dias. Os
trabalhos têm tomado conta dos dias. Os dias afogam-se em trabalhos que não nos deixam
respirar. Qualquer fuga episódica ao trabalho está condenada ao fracasso. Pagam-se caras
as fugas com o acumular dos trabalhos aquando do regresso.
São os tempos de uma ideologia para a
qual o trabalho é um fim e não um meio. Esta fé incondicional no trabalho como um fim em si mesmo*, no papel da empresa e no crescimento económico como panaceias para a resolução
dos problemas sociais é completamente equívoca. Se uma empresa puder realizar a
sua produção com dois, não empregará quatro, nem que tenha de sobrecarregar os
dois que emprega (Se tal lhe for permitido! E com estes que nos governam, diga-se de passagem, tudo lhes é permitido). Tão simples como isso. E se necessário fá-lo-ão só com um,
sobrecarregando-o mais ainda e baixando-lhe o salário, que é um "custo de
produção". As empresas não são a Santa Casa da Misericórdia nem a sua vocação é o combate aos problemas sociais. E assim vamos sendo
conduzidos à servidão por uma ideologia marcada pela fé cega na Empresa, no empresário e no empreendedorismo que resvala para a exploração do Homem pelo Homem. Esta sim, é a estrada
que conduz à servidão. Num extremo, lá está a velha memória da escravatura, as mulheres e crianças das minas de carvão ou nas fábricas inglesas, exploradas por patrões humanos, muito humanos.
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Alguns papagaios, comentadores do
regime, afirmam por aí que o PSD não tem um programa e blá, blá, blá…e que já
devia ter e blá, blá, blá… Como se precisasse. Ainda não perceberam ao fim de
quatro anos o programa do PSD? Ele é austeridade, redução de funcionários
públicos, redução de salários e de pensões, congelamento de carreiras, desestruturação
do Estado, retirada do Estado da economia (como se fosse possível colocar o Estado
num compartimento estanque, desligado da economia) e a transferência dos seus
serviços para os privados (os mercados), as privatizações, a precariedade, etc.,
etc., etc. Claro que para realizar tudo isto é preciso criar um ambiente de desconfiança
em relação aos serviços do Estado. E estes governantes desconfiam do Estado que
governam e manifestam-no às claras. A empresa privada realiza melhor, acreditam eles. É o cúmulo.
E eis um dos resultados dantescos
desta política: num dos países demograficamente mais velhos do mundo, os jovens
foram, e ainda são, obrigados a emigrar em massa. Um desperdício de recursos
humanos e dos esforços de uma sociedade que neles investiu, sendo agora outras as
sociedades que colhem os frutos desse investimento. Há exemplo maior do que
este acerca do que é um mau governo num período de paz?
Enfim, prosseguem os dias
afogados em trabalhos. São os trabalhos e os dias dos tempos que correm.
É sábado. Vou trabalhar que o
trabalho já se acumula.
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(*) Aos amantes do trabalho, fiquem sabendo: os nazis tinham a política de extermínio pelo trabalho, a Vernichtung durch Arbeit. O trabalho não era um fim em si mesmo. O trabalho era o fim. O trabalho liberta? Talvez, se não for excessivo, caso contrário, mata.