Sucede que hoje, sobre o mesmo
palco terrestre e nacional, “convivendo e
interagindo dentro de um espaço social comum” (Bauman), existem mais
gerações do que nunca. Sucede ainda que há uma rápida sucessão e acréscimo de
gerações no tempo. Rapidamente deixamos de nos identificar geracionalmente com os
que diferem poucos anos de idade em relação a nós. Essas diferenças manifestam-se
nas diversas escalas de atitudes e valores que cada geração parece determinar
como sendo as mais importantes e pelas quais, de uma forma geral, se guiam. A identificação com uma determinada geração encontra-se
cada vez mais confinada ou limitada a períodos mais curtos. Assim verifica-se
que os períodos geracionais já não se circunscrevem, por exemplo, às décadas – a “geração
de 60”, a “de 70”, a “de 80”, etc., como era comummente dizer-se. Isso é coisa
do passado. Agora na mesma década e no mesmo espaço social convivem várias
gerações. E parece ser essa a causa da percepção da acelerada mudança em que
vivemos mergulhados. A crise, parece portanto ser hoje mais profunda do que
nunca. Mas que crise? “Crise da ordem
mundial”, “crise de valores”, “crise da cultura”, “crise das artes e inúmeras
outras crises descobertas diariamente em áreas sempre novas da vida humana.”
(Baumman, 2000)
“Geração X”, “geração rasca”, “geração
nem nem”, são, por exemplo, designações para gerações que partilham o mesmo
espaço social (quando não competem entre si, pelo domínio do espaço e do tempo). São gerações
contemporâneas que se interseccionam, mas muito pouco, e os elementos que as integram têm cada vez menos fundamentos para se identificarem entre si.
***
Excerto da obra, Em Busca da Política (1999),
de Zygmunt Bauman, condutor desta reflexão:
«O que precisa ser explicado, em especial, é a intensidade incomumente
alta da preocupação pública atual com a “crise da ordem mundial”, a “crise de
valores”, a “crise da cultura”, a “crise das artes” e inúmeras outras crises
descobertas diariamente em áreas sempre novas da vida humana.
Diz-se que, embora o mundo tenha estado sempre em
mudança, nunca antes as mudanças foram
tantas nem tão profundas e que o
rápido aumento da quantidade e profundidade das mudanças torna muito mais
difícil a permanente tarefa humana da auto-orientação.
Um pouco menos óbvia mas resposta também relativamente simples seria
assinalar que nunca antes eventos e transformações fundamentais que marcam as
gerações envelheceram e desapareceram tão rápido quanto hoje, sucedendo-se com enorme
velocidade, e que consequentemente os
períodos de tempo de gerações específicas são hoje mais curtos do que nunca —
alguns anos e não algumas décadas. E portanto o número de gerações diferentes, cada uma preservando suas experiências
e expectativas mas convivendo e interagindo dentro de um espaço social comum,
aumentou enormemente. Esse fato explica em parte a impressionante polifonia
(alguns diriam cacofonia) da cena pública e a consequente dificuldade de
comunicação e de se chegar a um acordo apesar de todo o inegável progresso da tecnologia
da tradução.»
Zygmunt Bauman, Em Busca da Política, Jorge Zahar
Editora, Rio de Janeiro, 2000
(os negritos são
nossos)