segunda-feira, junho 10, 2024

Neutralidade

 "Quando nos mantemos neutrais numa situação de injustiça, escolhemos o lado do opressor. Se um elefante tem a pata na cauda de um rato, o rato não vai apreciar a nossa neutralidade." 

Desmond Tutu

 

citado por Oscar Mascarenhas, O Grande Livro dos Pensamentos e das Citações, Marcador, 2015, pág. 219.

domingo, junho 09, 2024

O terrorismo de Estado e o outro

 Peter Sloterdijk

Reflexões de Um Apolítico que Deixou de o Ser

Frankfurter Allgemeine Zeitung, 19 de Junho de 2013

In Reflexos Primitivos, Relógio D’Água, 2021, p.67

 

 

“Irrefletidos são, sobretudo, aqueles contemporâneos, aparentemente bem-intencionados, que se obstinam em ignorar que noventa e nove por cento de todos os ataques terroristas no século XX se podem incluir no terrorismo de Estado. Em geral, foram Estados e regimes em posse do Estado que, sob os pretextos mais variados, maltrataram as suas populações por meio da política do medo, na maior parte dos casos para as proteger de pretensos agressores e outros elementos daninhos no interior.”

 

Peter Sloterdijk

 

Reflexão

 

Neste excerto, Sloterdijk coloca ao mesmo nível moral o terrorismo praticado pelos “Estados e regimes em posse do Estado” e o terrorismo praticado por movimentos terroristas. É tão terrorista o Estado terrorista como o terrorista do movimento, contudo, pelos meios de que dispõe, o Estado terrorista é mais eficaz, generalizado e letal. 

 

O Estado pode também fazer um uso instrumental do terrorismo – da política do medo - para dessa forma conseguir mobilizar os seus cidadãos para as causas dos mais elevados interesses que o movem, para além dos interesses de cada um, ou até contra os interesses individuais.

 

Onde termina a guerra e começa o terrorismo? Não será a guerra, em si, já uma forma de terrorismo?

 

Não tenhamos dúvidas. Partindo desta acepção de Sloterdijk, tanto é terrorista o movimento do Hamas como é terrorista o Estado israelita. Contudo o terrorismo de Estado de Israel é mais eficaz, generalizado e letal, e ainda que surja como uma resposta a um ataque terrorista, não deixa de ser também terrorismo. A resposta do Estado israelita foi (e está a ser) desproporcionada. Não olhou à condição dos seres humanos do território que que visava, fossem eles civis ou militares, crianças ou velhos, culpados ou inocentes, tal como fez o Hamas, quando atacou Israel a 7 de Outubro de 2023. Para ambos não existem inocentes. Reina o ódio assassino entre as populações de ambos os Estados. O terrorismo grassa.

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