Anaximandro (Mileto, séc. VI a.C.) é o primeiro grego a escrever um livro, mas dessa obra resta apenas um pequeno fragmento: o Dito. E que Dito!Segundo de Hermann DIELS reza assim:
Mas, de onde as coisas têm o seu passar a ser, para aí vai também o seu deixar de ser, segundo a necessidade; pois elas pagam, umas às outras castigo e penitência pela sua impiedade, segundo o tempo estabelecido.
De todas as frases do sábio Anaximandro, eis que esta consegue atravessar o tempo, um período de 2 600 anos, e como uma flecha, chega até nós. Como se de um capricho do próprio tempo se tratasse, já que, no Dito, o tempo é o juiz que dita a sentença, relativamente a tudo, determinando o fim de todas as coisas e o seu regresso ao apeiron (ἂπειρον). E o tempo determinou que o livro cessasse mas que o Dito perdurasse, chegando até nós.
Muitas questões se podem levantar: porquê este fragmento e não outro? Por que razão haveria logo de ser um fragmento acerca do princípio e do fim de todas as coisas, viventes e não viventes? Será que o Dito assume um significado diferente, de acordo com a época em que é interpretado, à luz do tempo vivido?
Se a chegada do Dito até nós foi um acaso, e é o mais provável, então trata-se de um facto admirável. O Dito refere-se a uma ordem do Universo, a um modelo de cosmos. O que existe é algo que se liberta do apeiron por um grande ou pequeno instante, a ele regressando logo após o tempo estabelecido. Poderíamos recorrer à imagem de uma chama que se projecta da superfície de uma estrela, a ela regressando por não conseguir vencer a força da sua gravidade. E isso acontecendo vezes e vezes sem conta, num ciclo sem fim.
Regressaremos ao Dito.


A memória é como um músculo. Se não for exercitada mirra, perde qualidades. A memória é a base de outros processos de raciocínio mais complexos. No entanto, alguns educadores e decisores parecem não ter compreendido e continuam a desvalorizá-la. Como a memorização foi levada longe demais por um ensino tradicional, que hoje se considera caduco, mesmo por aqueles que se alcandoraram em elevadas posições na nossa sociedade, educados pelo mesmo sistema de ensino que hoje abominam, as novas correntes de pensamento pedagógico, os novos pedagogos, resolveram erradicá-la das aprendizagens. Memorizar para eles, é anti-pegagógico.
La adoración de los pastores - Murillo (Século XVII)