quarta-feira, novembro 05, 2008

Ridículo

É ridículo o argumento dos neoliberais que agora apontam o dedo acusador às entidades reguladoras por não terem estado atentas às falhas do mercado e aos que nele irresponsavelmente actuaram. É tão ridículo como o argumento que culpa as distracções dos polícias pelas acções dos ladrões. É que o problema, na realidade, não são os polícias, são os ladrões. O problema não são as entidades reguladoras, mas a política que sempre defendeu a mínima intervenção do Estado.

O mercado falhou porque, ao contrário do que sempre defenderam os neoliberais, tem de ser fortemente regulado pelo Estado. Curiosamente, vêm agora culpar o Estado e as entidades reguladoras pelas falhas do mercado e pelas irresponsabilidades dos directores executivos e quadros dirigentes. O mesmo Estado que, segundo os neoliberais, deveria intervir o mínimo nos mercados, financeiros ou não, e na economia.

Poupem-nos!

sábado, novembro 01, 2008

São Jerónimo

São Jerónimo (1521) – Albrecht Dürer

O dedo afaga o crânio, liso e frio como a morte. Um pensamento vago parece perpassar-lhe a mente esgotada de tanto pensar. Até a ordem das palavras é um mistério…

A Vida, o Espírito: para onde vão após o último sopro? Para o Paraíso, é certo. Mas isso é uma questão de Fé. A Razão contudo, teima em questionar, ainda que a resposta cabal seja pronunciada mil vezes.

A presença de Cristo, Aquele que venceu a Morte, é um eterno desafio.

quarta-feira, outubro 29, 2008

Alcácer do Sal, Alcácer do Sul

Alcácer do Sal (1983), Maluda

Às portas do Sul, a primeira cidade.

(Cálido Sul, onde o olhar se afunda.
Largo horizonte azul.)

Quieta e muda adormece,
Embalada pela brisa.
----------------------------------------------------------------------------------
Ao entardecer,
o tinir das espadas,
Melodias de citaras,
E mouras encantadas.
Cânticos de cigarras,
Legiões nas calçadas.
As tardes são romanas.
As noites são amadas.

Às portas do Sul,
a cidade adormece,
vetusta guerreira,
que nunca fenece.
---------------------------------------------------------------------------------

segunda-feira, outubro 27, 2008

Alcácer do Sal

Alcácer do Sal (1983), Maluda

O olhar de Maluda sobrevoa Alcácer, como uma cegonha, e dirige-se para o Sul. É assim que Alcácer deve ser olhada. A primeira cidade do Sul.

O olhar de Maluda é o olhar de quem chega, vindo do Norte, e num só relance, abarca telhados e açoteias, o Sado e os arrozais, a planura e o horizonte. É o olhar de uma forasteira arguta, uma viajante que sente o apelo do horizonte. Nem podia ser de outra forma: a cidade induz-nos, como se nos pegasse pela mão e apontasse: é ali o Sul. Maluda sentiu Alcácer. E em Alcácer sente-se sempre o apelo do Sul.

Para lá do horizonte, outro mundo se adivinha: a infinda planície, o vinho tinto quente, manjares antigos, terra de cante e de ouro, terras de outra gente, lugar de praias serenas e além-mar, mundos de águas cálidas e serenas, por vezes revoltas, e África.
O Sul é o nosso permanente deslumbramento: plenitude dos mistérios. Adamastores e sereias, costas distantes, reinos perdidos, outros ritos, ouro, prata e especiarias, rios antigos, araras e catatuas, florestas e desertos, mares de azul turquesa, calmarias e corais, a vil pirataria, ilhas de amotinados e a Ilha dos Amores…

É em Alcácer que tudo começa. Na cidade, ao entardecer, a brisa transporta melodias de citaras encantadas e o tinir de sabres e espadas. Passeiam-se os fantasmas à sombra das oliveiras e das laranjeiras, entre as videiras e nos pinhais. Nos arrozais assolados pelas sombras planantes das cegonhas, rebentam bandos de pássaros espantados.

Quando a noite cai, os homens recolhem-se nas tabernas. E nas ruas solitárias, marcham fantasmas de passo cadenciado, legiões romanas, centuriões e soldados. Ali ouve-se o fado. Além soa o cante.

Em Alcácer, à luz das estrelas, todas as mulheres são belas.

É impossível não se amar esta terra.

sábado, outubro 25, 2008

A retoma da economia

Quem se lembra da "retoma" no discurso dos políticos? Agora já ninguém fala dela. A retoma do "para o ano é que é".
Afinal onde está a retoma que nos prometeram?

E diz o Zé Povinho: "Queres a retoma? Ora toma!"

"E para a próxima, não vás no discurso dos políticos."

sexta-feira, outubro 24, 2008

Quixotesco

Talvez aos vossos olhos vos pareça um louco esfarrapado, de cabelos desgrenhados, esbracejando e vociferando impropérios contra o neoliberalismo, numa praia deserta, numa ilha perdida no oceano da Internet. E o neoliberalismo, qual navio, passa ao longe, alheio ao louco e à ilha, lento na sua rota, rumando a um naufrágio certo.

Pois bem, esse é o navio que vos transporta.

terça-feira, outubro 21, 2008

O Estado do Ambiente na UE


A economia é a força mais poderosa e rápida de transformação do planeta. Florestas inteiras desaparecem ante os nossos olhos, vigorosas montanhas são corroídas e aplanadas, calotes polares fundem-se aceleradamente e são liquefeitos oceanos de gelo. A economia está a mudar o mundo. A economia está a destruir o mundo.

Contudo, há um conjunto de macacos vestidos, que do alto da sua suposta (i)razão, continua a colocar a economia acima do mundo. Assumem o seu verdadeiro papel estes símios, encabeçados pelo governo de Berlusconi: o de parasitas que se estão nas tintas para o destino do mundo.

E não nos venham falar em desenvolvimento sustentável.

segunda-feira, outubro 20, 2008

É a hora!

Agora a economia real anda a reboque da economia financeira. As decisões dos políticos são reacções pavlovianas às oscilações da bolsa. Eis o momento em que o casino virtual comanda a economia real e a política. É o fim...

É a hora!

domingo, outubro 19, 2008

Governos verdadeiramente preocupados

Preocupam-se os governos, com as empresas em primeiro lugar e, com as empresas em último lugar. As famílias são um ornato dos discursos dos políticos: a sua verdadeira e única preocupação são as empresas. E a verdadeira e única preocupação das empresas é o lucro.

Estão a tentar enganar-nos com a inclusão das famílias nos discursos.

É preciso tirar esta gente dos governos. Pela via democrática, preferencialmente.

Etiquetas