domingo, maio 01, 2011

Se eles pudessem...

Breaker Boys, 1910

Se eles pudessem, as crianças ainda trabalhariam em todos os países do nosso mundo. As nossas crianças. O trabalho infantil, que prossegue nos países do Terceiro Mundo, onde o Estado não protege os filhos dos trabalhadores pobres, é um sinal da persistência dessa gente. Nesses países, os empresários sem escrúpulos - ou na linguagem marxista, os capitalistas - e as multinacionais, avançam à rédea solta e ainda se dão ao desplante de escravizar o trabalho.

Contra esta gente, temos de erguer barricadas intransponíveis e do alto delas, elevar bem a nossa voz: NÃO PASSARÃO!


Islamabad, 2011. Raparigas numa fábrica de tijolos.

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domingo, abril 24, 2011

Abril ou a morte do futuro

"Dia de Luta pelo Futuro" ou "Dia de Luto pelo Futuro"? A decisão depende da nossa acção ou inacção. Acção é luta, inacção é luto (parar é morrer, costuma dizer o bom povo). Vamos carpir por aqui a morte do futuro ou vamos lutar por ele? Vamos permitir que decidam o nosso destino por nós, ou vamos tomar o nosso destino nas nossas mãos?

Vamos deixar morrer Abril?



***

Aquilo que se preparam para fazer ao bom povo português é um assalto de proporções dantescas. Essa ajuda, tão propalada, não é ajuda, coisa nenhuma.

Todo o dinheiro que farão entrar, sairá. Servirá para pagar a dívida aos bancos alemães e a outros bancos credores. Nem um cêntimo será gasto em solo pátrio. Por cá só a austeridade permanecerá e, através dela, o roubo, porque o dinheiro que farão entrar (e acto contínuo, sair), também terá de ser pago. E adivinhe quem vai pagar.

Se as dívidas devem ser pagas, que o sejam por quem as contraiu. Mas não vai ser assim. Os mais pobres, os da base, os trabalhadores, é que vão pagar, com o suor do seu trabalho. Mais do que a dívida, os juros a pagar por ela são criminosos e especulativos, por outras palavras, uma exploração e um assalto.

Os contribuintes portugueses, directamente endividados ou não, hipotecários ou não, pobres e da classe média, irão sentir na pele a austeridade. Na verdade, já estão a senti-la.

Os ricos, como sempre, manterão o fruto do seu roubo e do seu egoísmo nos paraísos fiscais distantes. Naqueles em que os grandes governantes do mundo e instituições mundiais, que deveriam regular os fluxos de capital no mundo, não ousam tocar. É assim que os ricos e os especuladores se furtam ao pagamento dos impostos que lhes são devidos, deixando a austeridade para os demais.

Em última análise seremos nós que iremos pagar. Já estamos a pagar. O bom povo português.

sábado, abril 23, 2011

domingo, abril 17, 2011

Nobre fala na TV

Sangue Derramado

Não quero vê-lo!


Dizei à lua que venha,

que não quero ver o sangue

de Inácio sobre a areia.


Não quero vê-lo!


A lua de par em par.

Cavalo de nuvens quietas,

e a praça escura do sonho

com salgueiros nas barreiras.

Não quero vê-lo!

Que a lembrança se me queima.

Ide avisar os jasmins

com sua alvura pequena!


Não quero vê-lo!


A vaca do velho mundo

passa a sua triste língua

sobre um focinho de sangue

derramado sobre a areia,

e os toiros de Guisando,

quase morte e quase pedra,

mugiram como dois séculos

fartos de pisar a terra.

Não.

Não quero vê-lo!


Pelos degraus sobe Inácio

com a morte inteira às costas.

A madrugada procura

mas já não há madrugada.

Busca seu perfil seguro,

e o sonho o desorienta.

Busca seu corpo formoso

e encontra o sangue aberto.

Não me digam para o ver!

Não quero sentir o jorro

cada vez com menos força;

esse jorro que ilumina

galerias e se derrama

na bombazina e no coiro

duma multidão sedenta.

Quem me grita que me assome?

Não me digam para o ver!


Não se cerraram seus olhos

quando viu os cornos de perto,

porém, terríveis, as mães

levantaram a cabeça.

Nas ganadarias houve

um ar de vozes secretas:

gritam a toiros celestes

maiorais de pálida névoa.


Não houve príncipe em Sevilha

que lhe possam comparar,

nem espada como a sua,

nem coração tão deveras.

Como um rio de leões

a força maravilhosa,

e como torso de mármore

a desenhada prudência.

Ar de Roma andaluza

doirava a sua cabeça,

onde o seu rio era um nardo

de sal e de inteligência.

E que toureiro na praça!

Que bom serrano na serra!

Que brado com as espigas!

Que duro com as esporas!

Que terno com o orvalho!

Que deslumbrante na feira!

Que tremendo com as últimas

bandarilhas só de treva!


Porém já dorme sem fim.

Já os musgos e a erva

abrem com dedos seguros

a flor da sua caveira.

E seu sangue já vem cantando:

cantando por charnecas e lezírias,

resvalando por cornos transidos,

vacilando sem alma pela névoa,

e tropeçando em milhentas patas,

como longa, escura, triste língua,

para formar um charco de agonia

junto ao Guadalquivir das estrelas.

Oh branco muro de Espanha!

Oh negro toiro de pena!

Oh sangue duro de Inácio,

rouxinol de suas veias!

Não!

Não quero vê-lo!

Que não há cálice que contenha,

que não há andorinhas que o bebam,

que não há neve de luz que o arrefeça,

não há canto nem dilúvio de açucenas,

não há cristal para o cobrir de prata.

Não!


Eu não quero vê-lo!

Garcia Lorca

(traduzido pelo saudoso poeta, Eugénio de Andrade)

(*) - E que Inácio nos perdoe. Ainda pensámos substituir “Inácio” por “Nobre”. Mas não. Nunca, nunca iremos mutilar um poema. Muito menos este.

***

La sangre derramada

¡Que no quiero verla!

Dile a la luna que venga,
que no quiero ver la sangre
de Ignacio sobre la arena.

¡Que no quiero verla!

La luna de par en par,
caballo de nubes quietas,
y la plaza gris del sueño
con sauces en las barreras

¡Que no quiero verla¡
Que mi recuerdo se quema.
¡Avisad a los jazmines
con su blancura pequeña!

¡Que no quiero verla!

La vaca del viejo mundo
pasaba su triste lengua
sobre un hocico de sangres
derramadas en la arena,
y los toros de Guisando,
casi muerte y casi piedra,
mugieron como dos siglos
hartos de pisar la tierra.
No.
¡Que no quiero verla!

Por las gradas sube Ignacio
con toda su muerte a cuestas.
Buscaba el amanecer,
y el amanecer no era.
Busca su perfil seguro,
y el sueño lo desorienta.
Buscaba su hermoso cuerpo
y encontró su sangre abierta.
¡No me digáis que la vea!
No quiero sentir el chorro
cada vez con menos fuerza;
ese chorro que ilumina
los tendidos y se vuelca
sobre la pana y el cuero
de muchedumbre sedienta.
¡Quién me grita que me asome!
¡No me digáis que la vea!

No se cerraron sus ojos
cuando vio los cuernos cerca,
pero las madres terribles
levantaron la cabeza.
Y a través de las ganaderías,
hubo un aire de voces secretas
que gritaban a toros celestes,
mayorales de pálida niebla.
No hubo príncipe en Sevilla
que comparársele pueda,
ni espada como su espada,
ni corazón tan de veras.
Como un rio de leones
su maravillosa fuerza,
y como un torso de mármol
su dibujada prudencia.
Aire de Roma andaluza
le doraba la cabeza
donde su risa era un nardo
de sal y de inteligencia.
¡Qué gran torero en la plaza!
¡Qué gran serrano en la sierra!
¡Qué blando con las espigas!
¡Qué duro con las espuelas!
¡Qué tierno con el rocío!
¡Qué deslumbrante en la feria!
¡Qué tremendo con las últimas
banderillas de tiniebla!

Pero ya duerme sin fin.
Ya los musgos y la hierba
abren con dedos seguros
la flor de su calavera.
Y su sangre ya viene cantando:
cantando por marismas y praderas,
resbalando por cuernos ateridos
vacilando sin alma por la niebla,
tropezando con miles de pezuñas
como una larga, oscura, triste lengua,
para formar un charco de agonía
junto al Guadalquivir de las estrellas.
¡Oh blanco muro de España!
¡Oh negro toro de pena!
¡Oh sangre dura de Ignacio!
¡Oh ruiseñor de sus venas!
No.
¡Que no quiero verla!
Que no hay cáliz que la contenga,
que no hay golondrinas que se la beban,
no hay escarcha de luz que la enfríe,
no hay canto ni diluvio de azucenas,
no hay cristal que la cubra de plata.
No.

¡¡Yo no quiero verla!!

A globalização eleitoral finlandesa

O futuro do nosso país decide-se hoje, nas urnas da Finlândia. Com efeito, um voto colocado numa urna na longínqua Finlândia pode gerar uma tempestade conjuntural aqui em Portugal.

É irónico: parece que são mais relevantes para o futuro do nosso país, os votos dos eleitores finlandeses do que os votos dos eleitores portugueses no próximo dia 5 de Junho.

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