domingo, março 19, 2006

Barricadas em Paris





Há quem desvalorize a contestação nas ruas de Paris, tratando-a como se fosse uma réplica dos movimentos de Maio de 1968, e portanto como se fosse uma farsa (e não um drama). Dizem que os jovens hoje são conservadores e pragmáticos, quando em Maio de 68 eram idealistas. Alguns falam com saudade de Maio de 1968. Aquilo é que era contestação. Agora não.

Maio de 1968 foi há 38 anos. É história. No século XXI as preocupações dos jovens franceses passam pelo seu futuro, e o seu futuro é o da França.

Maio de 68 não foi a mãe de todas as contestações, como alguns nos querem fazer crer, e talvez a actual tenha tanto a ver com a de 1968, como essa tem a ver com a de 1871 .

É longa a tradição das barricadas de Paris (e das manifestações). Maio de 68 não foi a primeira, nem sequer a mais importante. A actual por certo não será a última.

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Única e exclusivamente a filosofia


Na vida do homem, a duração é um instante; a substância, fluente; a sensação, embotada; o composto de todo o corpo, pronto a apodrecer; a alma, um turbilhão; o destino, um enigma; a fama, uma vaga opinião. Em resumo, tudo o que respeita ao corpo, um rio; e a alma, sonho e fumo; a vida, uma guerra, um exílio no estrangeiro; a fama póstuma, o esquecimento. Que pode então guiar-nos? Única e exclusivamente a filosofia.

Marco Aurélio, Pensamentos

domingo, fevereiro 19, 2006

Serão os Americanos, os Romanos em ascensão, e os Europeus, os Gregos em decadência?

A América está feita com a sobra da Europa.


Ortega y Gasset, A Rebelião das Massas

Alguns carpem o fim duma Europa impotente, presa nos seus próprios dilemas, paralisada na acção face aos desafios que o mundo lhe coloca e falam duma América activa, o braço forte do Ocidente, como se a Europa fosse uma Grécia decadente e a América uma Roma ascendente. Trata-se de uma falsa ideia. A união dos povos da Europa é coisa inaudita e poderosa. O desejo de adesão à União Europeia, por parte de Estados europeus e até extra-europeus é uma manifestação da força do projecto europeu. Para reforçar o seu papel no mundo, a Europa só tem de trilhar o seu próprio caminho, não contra os americanos, nem contra ninguém. Trata-se de um novo caminho. Um caminho nunca trilhado, repleto de esperança e de futuro. Pensar na União Europeia à luz de um modelo do tipo Estados Unidos da Europa, como se pensou no início, quando se criou a CEE, é um erro crasso. O modelo a seguir é novo, trata-se de uma união de povos distintos e de diferentes nações e não de estados distintos numa só nação.

sábado, fevereiro 18, 2006

A felicidade de uma alegria interior e sublime está reservada àquele que opõe a sua inexorável personalidade aos orgulhosos deuses e comodoros deste mundo.

Melville, Moby Dick, Relógio d’ Água Editores, Lda. , Pág. 74.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Deus, o livre arbítrio e os condutores de homens

Acontece porém, que uma das marcas essenciais do homem está, com todos os males que tal possa acarretar, na sua possibilidade de se opor, de resistir a Deus, e eis um ponto em que deviam meditar todos os que pretendem conduzir homens aos seus fins deles, não dos próprios homens; mas também é verdade que esses, por seu turno, estão resistindo a Deus. O Português podia ter resistido ao apelo do longe, Portugal podia ter-se recusado à acção.

Agostinho da Silva, Reflexão, Guimarães Editores, Colecção Filosofia & Ensaios, 1996, pág. 36
Ao recusar-se à acção, os portugueses estariam a opor resistência ao Eterno, mas o apelo do Eterno foi mais forte, e reflectiu-se na imensidão do mar, vindo de todos os azimutes, através dos oceanos infinitos.

domingo, fevereiro 12, 2006

A paz e a ausência de conflitos

Toda a vida é a luta, o esforço por ser ela mesma.

Ortega y Gasset, A Rebelião das Massas


A paz não é meramente a ausência de conflitos, é algo mais. A verdadeira paz não é passiva é activa. A paz envolve um esforço constante das sociedades para mantê-la. A paz, por vezes, não se consegue sem o confronto. Pax romana. Quando os Romanos negligenciaram a sua paz, a paz acabou para os Romanos. Os Romanos acabaram. Às vezes é preciso lutar para conquistar a paz. Esta é a dura realidade. A paz está longe de ser coisa para pacifistas.
O actual renascimento fundamentalista deve-se, em parte, ao sentimento de que os valores liberais do Ocidente representam uma ameaça para as sociedades islâmicas tradicionais.


Fukuyama, Francis, O Fim da História e o Último Homem, Lisboa, Gradiva, 1999, pág.65.

sábado, fevereiro 11, 2006

O Fim da História e o Choque de Civilizações

As guerras entre clãs, grupos étnicos, comunidades religiosas e nações têm sido prevalecentes em todas as épocas e civilizações porque têm as suas raízes nas identidades dos povos.

Huntington, Samuel, O Choque das Civilizações, Gradiva, 1999, pág. 296.

As duas teses surgidas no final do século XX parecem encerrar uma contradição entre si porque a marca da história tem sido o confronto de civilizações. A Bíblia está repleta de confrontos civilizacionais e Heródoto há cerca de 2500 anos atrás já narrava o choque de civilizações entre o Egipto e a Mesopotâmia, entre Gregos e Fenícios e desde então os confrontos sucederam-se: Gregos e Persas, Romanos e Gregos, Romanos e Cartagineses, Ocidentais e Muçulmanos, Ocidentais e Incas, Ocidentais e Astecas, Chinenses e Japoneses e por aí fora. Por isso, qual é a novidade se actualmente, numa era em que todas a civilizações tem conhecimento umas das outras, existem atritos, choques e conflitos. É a história. E a história continua...

segunda-feira, fevereiro 06, 2006



Vejo as lágrimas no teu rosto, mais amargas que o fel.
A farda que transportas na tua retirada, vai desmazelada.
O fim desse império efémero...
O futuro incerto no teu caminho...
Vai livre miúdo.
Nunca foste um soldado desse maldito Reich.
Foste um miúdo fardado,
que queriam fazer soldado.

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