quarta-feira, janeiro 30, 2008

Sócrates, grande Sócrates (470 a.C - 399 a.C)

Atenienses, agradeço-vos e amo-vos, mas obedecerei antes ao deus do que a vós. Enquanto possuir um sopro de vida, enquanto for capaz, não conteis que eu deixe de filosofar, de vos exortar e de vos ensinar. A cada um daqueles que eu encontrar direi o que habitualmente digo ‘Como é que tu, excelente homem, que és ateniense e cidadão da maior cidade do mundo e da mais famosa pela sabedoria e poder, como é que não tens vergonha de pôr os teus cuidados em amealhar dinheiro o mais possível e em buscar a fama e as honrarias, ao passo que não tomas qualquer cuidado ou preocupação com o teu pensamento, com a verdade da tua alma?’

Platão, Apologia de Sócrates

Também nós, europeus, os da “terra do poente”, somos atenienses. Nós, os da grande Civilização Ocidental, somos atenienses. A questão de Sócrates ainda se coloca. Surge num momento em que Atenas inicia a sua decadência e Sócrates é condenado à morte pelos juízes, esses supostos defensores da Justiça, ultrapassados por ele, que em muito os transcendeu na defesa da Justiça.
Bem poderia também, ser um juramento deontológico para os que ensinam - Enquanto possuir um sopro de vida, enquanto for capaz, não conteis que eu deixe de filosofar, de vos exortar e de vos ensinar.
Hoje valorizamos o que é material, a fama e as honrarias e descuramos aquilo que é mais precioso, a liberdade, a alma, o pensamento, mas mais importante que tudo, a liberdade de pensamento.

Ter é tardar.

Fernando Pessoa, Mensagem

domingo, janeiro 27, 2008

Longe das grandes cidades





Já florescem as amendoeiras. Em breve por toda a Arcádia, as serras ondulantes serão mares brancos de estevas floridas. As andorinhas chegaram mais cedo e bandos de pássaros azuis rompem os céus da manhã. Aqui ainda se respira liberdade.

domingo, janeiro 13, 2008

A imutabilidade de Deus

Ancient of Days (God as an Architect), 1794
William Blake (1757-1827)
Lido no DN (12-01-2008):
Um interessante texto de Anselmo Borges e uma excelente constatação de Mestre Eckhart.
Mais uma vez pressentimos o apeiron de Anaximandro nas palavras de Mestre Eckhart. Apeiron "que tudo inclui, que tudo governa" e ao qual tudo retorna.
A imutabilidade é o pano de fundo da mudança.

sábado, janeiro 05, 2008

Sobre o uso de máquinas calculadoras no ensino de crianças

A memória é como um músculo. Se não for exercitada mirra, perde qualidades. A memória é a base de outros processos de raciocínio mais complexos. No entanto, alguns educadores e decisores parecem não ter compreendido e continuam a desvalorizá-la. Como a memorização foi levada longe demais por um ensino tradicional, que hoje se considera caduco, mesmo por aqueles que se alcandoraram em elevadas posições na nossa sociedade, educados pelo mesmo sistema de ensino que hoje abominam, as novas correntes de pensamento pedagógico, os novos pedagogos, resolveram erradicá-la das aprendizagens. Memorizar para eles, é anti-pegagógico.
As consequências podem ver-se à vista desarmada: produziu-se uma sociedade sem memória. As memórias estão nos filmes e nos documentários de um passado recente, mas não na cabeça dos homens, que não os vêem, e muito menos os discutem. Arruma-se a memória nos suportes virtuais da memória. Assim, o fantasma do totalitarismo abeira-se da democracia, quase sem ser notado.

Os nossos alunos vão agora poder utilizar a calculadora, nos primeiros anos de escolaridade, desprezando-se dessa forma a exercitação da memória, e por essa via, de todos os outros processos de raciocínio mais complexos.

Deviam memorizar a tabuada. Deviam memorizar poemas. Deviam memorizar regras gramaticais. Deviam memorizar cronologias, importantes referências no tempo histórico, como são os mapas que nos guiam no espaço geográfico. Deviam memorizar conceitos fundamentais para a construção do edifício do conhecimento.

Mas pelo contrário, fomenta-se uma educação e um ensino de triste memória. Assim vai o ensino nestes tempos demóticos.

segunda-feira, dezembro 31, 2007

Sobre 2008

O silêncio e a incerteza assolam os nossos dias. Fica em branco a página das previsões para 2008. Atravessamos uma era de crises a nível mundial e nacional, logo, uma era de mudança e de incertezas. O mundo atravessa várias crises: crise social, crise ecológica, crise e reestruturação dos Estados, crise do Welfare State, riscos associados à globalização, crise das democracias…Crise da Civilização Ocidental e da Humanidade…

Em Portugal temos crise na economia, na educação, na saúde, na segurança, e de forma estrutural, na justiça, o que significa que é a democracia que está em crise. O momento é portanto, de desencanto. Não sabemos onde vai desaguar este rio. Há quem lhe augure um triste fim. A decadência é propalada por velhos intelectuais, e opinion makers. Neles esse potente narcótico da esperança, já não produz qualquer efeito. Onde reside a esperança?

Uma sombra vai cobrindo o nosso país, lenta e inexoravelmente.

Os recursos financeiros ao dispor do Estado, cada vez mais mal geridos, tornam-se por essa via, cada vez mais escassos. São como um cobertor que se torna pequeno demais para tapar todas as necessidades do país. Assim os recursos são empregues prioritariamente na endividada capital, em particular no seu centro, onde residem o poder político e o poder económico, mas onde vivem cada vez menos pessoas. O resto do país é cada vez mais preterido, e o Interior, deixado ao abandono e aos velhos sem esperança.

Fala-se no crescimento económico enquanto desígnio, mas omite-se que pode haver crescimento económico com aumento do desemprego. Fala-se na criação de emprego enquanto desígnio, mas esquece-se a qualidade do emprego. Pode ser criado emprego, precário, ou seja, desemprego a prazo. Fala-se na qualificação dos portugueses, mas a preocupação é estatística. Qualifica-se sem preocupação com a qualidade. É preciso qualificar depressa…É preciso mostrar resultados. Foram exigidos resultados! Que resultados? Onde está o Desenvolvimento?

Como pretendemos reduzir o número de pobres que se avoluma? Como tencionamos reduzir o número de desempregados? Como vamos reduzir as desigualdades na distribuição da riqueza e as disparidades regionais?

O silêncio e a incerteza assolam os nossos dias. Fica em branco a página das previsões para 2008.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

El Niño Dios

La adoración de los pastores - Murillo (Século XVII)



sábado, dezembro 15, 2007

Pedra no sapato

O Kosovo é a pedra no sapato da União Europeia. Impede-a de avançar. Não há solução à vista. É que neste caso, não é nada fácil tirar o sapato e lançar a pedra fora. Tal significaria que a União Europeia se teria autonomizado na sua política internacional face aos Estados Unidos da América. Mas a União Europeia não funciona, neste caso, como um bloco e as suas divisões intrínsecas enfraquecem-na. Além disso, a NATO funciona aqui como um colete de forças, prendendo-lhe os movimentos.

A incapacidade de resolver o problema do destino a dar ao Kosovo representa por isso, toda a fragilidade e impotência da União Europeia face aos EUA e à Rússia. Talvez esteja aqui o gérmen de uma nova Guerra Fria ou o simples acordar da velha, facto que tanto parece agradar à Rússia, ansiosa por assumir velhos protagonismos no mundo. Neste contexto, a União Europeia nem é tida nem achada. É humilhada.

É que para tirar o sapato, tem de pedir licença.

Quem diria?!

Aqui na Arcádia oiço notícias longínquas da nossa laboriosa cidade do Porto. É agora comparada com Chicago dos anos 20 do século XX, a dos tempos da Lei Seca, ou com Medellín, onde os senhores da droga são quem mais ordena e as vendettas se sucedem ao ritmo de rajadas de metralhadora e explosões dilacerantes. A amistosa população do Porto não merece tais comparações. Afinal, ao que chegámos?

É o que acontece quando a política vigente agrava a pobreza, as desigualdades e o desemprego.

O nosso país parece-se cada vez mais com um qualquer da América Latina (à excepção do Chile!). Somos cada vez mais "Terceiro Mundo". Era bom que não chegássemos a tal.

Aguardemos pela acção de quem nos governa e dirige. Com ou sem esperança.

domingo, novembro 25, 2007

Heraclito e o ensino

Disse Heraclito:

134. O ensino é outro sol para aqueles que o recebem.

Nota: fragmento 134 editado por DIELS e extraído da obra de Weil, Simon (1953) , A Fonte Grega, Estudos sobre o pensamento e o espírito da Grécia, Livros Cotovia, 2006, página 154.

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