sábado, fevereiro 28, 2009

Socialismo bichoso

Três anos de neoliberalismo e um para tirar apressadamente o “socialismo” da gaveta, que os tempos mudaram. São estes os nossos “socialistas” e o seu “socialismo” já bichoso de tanta traça.

São indisfarçáveis os efeitos da sua governação neoliberal. Agora de nada lhes adiantará bater no peito e acenar novas bandeiras, como se nada tivessem com o neoliberalismo que nos trouxe até aqui.

domingo, fevereiro 08, 2009

O regresso dos anos sombrios

O desemprego alastra como uma peste e nós agora, nem sequer podemos abandonar a cidade e procurar lugares mais sadios, como noutros tempos. A praga é geral. Eis o fruto do capitalismo tardio, essa forma de organização económica e social que já nos trouxe paz, prosperidade e segurança, em tempos idos, quando tinha sido corrigido nas suas crises cíclicas, após a de 1929. Chegados os anos 70 do século XX, apagou-se a memória, abraçou-se o neoliberalismo e o monetarismo. Resultado: voltámos às velhas crises cíclicas. Os governantes dos países desenvolvidos estão em pânico: já não conseguem assegurar os interesses dos poderosos que os colocaram nos governos dos Estados. Utilizam agora os contribuintes como fiadores e transferem avultadas quantias para esse buraco negro, insaciável e ganancioso, que se tornou o mundo da alta finança e da especulação bolsista.

Há que procurar uma nova forma de organização económica e social, nem que seja abalando o status quo. Este capitalismo, que se alimenta do desemprego de milhões já não nos serve.

domingo, janeiro 11, 2009

Faixa de Gaza

Sob um céu azul,
Grito amor!
Não reparas na dor que sinto,
Tão perto que estás?

A liberdade é um navio,
E tu viajas amarrada ao seu mastro.

Quanto a mim,
Não existem amarras que me prendam.
Ainda que o tempo seja um tormento,
E os dias um torpor.

Mas a viagem é a minha casa,
E os teus lábios o meu luar.

Da vida não me arrastarão. Lutarei.
A terra é fria.
A morte que espere.

Ainda que os tiros varram este céu,
É só pelos teus lábios que morro.

quarta-feira, dezembro 31, 2008

O Dever de Ser Feliz

«O que se desenha no horizonte? – Um século das horas extraordinárias, da dúvida, da fuga massiva. Mas não vale a pena lamentar-se e é indecoroso baixar a cabeça. O dever de ser feliz é mais válido do que nunca em tempos como os nossos. O verdadeiro realismo da espécie consiste em não esperar menos da inteligência do que se exige dela.»

Peter Sloterdijk (1993), O Estranhamento do Mundo, Relógio D’Água, pág. 220.

Seria fácil demais virar o olhar para o lado sombrio dos nossos tempos e relembrar todas as desgraças. Seria fácil demais embrenharmo-nos na noite escura e questionar a ousadia da nossa festa. Festejemos! Iluminemos a noite com os nossos fogos, fátuos ou não. Lancemos alguma luz no céu sombrio e dancemos até ao raiar da aurora.

sábado, dezembro 27, 2008

O porto ou a morte

O Mar de Gelo, c. 1824 (Friedrich, Caspar David)
Nenhum grupo de ascetas sobre os mares pôde, porém, sentir com mais acuidade a lei do mar, «o porto ou a morte», do que os que procuravam os pontos de travessia mais difíceis da Terra, a via nordeste entre o Mar do Norte europeu e a Sibéria Oriental e a via noroeste entre a Gronelândia e o Alasca.

Peter Sloterdijk, Palácio de Cristal, Relógio D'Água, pág. 86

terça-feira, dezembro 23, 2008

El Niño Dios ha nacido en Belén

A Sagrada Família com Santa Ana, c 1600 - El Greco

A imagem do Menino Jesus a levar nalgadas da Virgem Abençoada, ainda por cima, perante três testemunhas (como o pintou Max Ernst), não é digna desta quadra natalícia. Por isso, deixamos um quadro mais cordato do Menino Jesus a ser amamentado pela Virgem. Agora, perante duas testemunhas (São José e Santa Ana).

Feliz Natal para todos os que acidentalmente ou incidentalmente encalharam neste blogue e para todos os que o visitaram intencionalmente. Espero que se tenham divertido de algum modo.

Boas Festas.

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Max Ernst em Málaga

A Virgem Abençoada Castigando o Menino Jesus Perante Três Testemunhas, 1926 - Max Ernst

No Museu Picasso em Málaga, descobrimos outro vulto da arte do século XX. Max Ernst (1891-1976). Em exposição até 01/03/2009, a sua obra integrada na colecção Würth pode ser apreciada nas galerias do museu. Pelas galerias acompanhou-nos a estranheza e o espanto da descoberta. Um louco pintando, não o mundo exterior, mas as paisagens do espírito interior. Pinturas, colagens, esculturas. Uma cabeça monumental dominando uma grande sala, omnipresente: o Big Brother. Gravuras representando figuras semi-humanas, semi-animais. O Espírito da Bastilha: um pequeno homenzinho erigido no cimo de um totem de pedra. A Horda – uma colagem de figuras antropomórficas ameaçadoras. Mas o quadro que mais nos chamou a atenção foi o Século XX ou Versatilidade, pintado em 1961. Há quem veja optimismo no quadro!? Optimismo!? Pintado em 1961, no auge da Guerra Fria e do equilíbrio do terror nuclear por um homem que sofrera na pele duas guerras mundiais (lutou na Primeira tendo recuperado de uma morte clínica e foi enviado para campos de concentração na Segunda), o quadro é a imagem da desolação ou da versatilidade das formas de destruir o mundo: uma descrença total no Homem, o destruidor de mundos. Trata-se na verdade de uma paisagem de escombros fumegantes, sobre o vermelho vivo de sangue, e um azul frio de morte. Um apocalipse. Não foi o século XX, um século de campos de batalha sem fim, de cidades arrasadas e cogumelos atómicos? Que futuro se pressentia para o século XX, em 1961?

O Século XX ou Versatilidade não o encontrámos na Internet. Fica a imagem da Virgem Abençoada Castigando o Menino Jesus Perante Três Testemunhas (que se encontra em exibição no The Metropolitan Museum of Art).

domingo, dezembro 21, 2008

Málaga em Dezembro

Na margem do Mediterrâneo, Málaga é uma cidade digna de ser visitada em Dezembro, pelas suas gentes, pela sua alegria e pelo seu calor. Málaga é uma cidade viva. À noite o seu centro anima-se de jovens e famílias que se passeiam pelas calles iluminadas e enfeitadas (as ruas nunca são abandonadas ao frio e ao silêncio). As jovens espanholas embelezam-se e perfumam-se. Caminham animadamente em direcção a uma qualquer fiesta. No centro da cidade destaca-se a avenida Marqués de Larios (uma espécie de Rua Augusta, mas ao contrário desta, a multidão invade-a quando a noite se instala). O centro histórico é também constituído por numerosas pequenas praças e ruas estreitas, polvilhadas de bodegas, onde se comem tapas, bebe-se cerveja e convive-se animadamente. Os mais devotos formam filas à entrada das igrejas e da catedral, para assistirem a rituais nocturnos. A cidade respira o ar cálido do Mediterrâneo por todos os poros.

Mas com o aprofundar da noite, resistem nas ruas hordas ruidosas de adolescentes que, organizadamente, se foram embriagando. A vozearia e a gritaria é intensa na Plaza da Marina, fronteira ao porto, e dura até ao raiar da alba.

sábado, dezembro 20, 2008

O Cabo das Tormentas

A criatura resiste. Recorre neste momento de aflição, a todos os seus esbirros colocados em altos cargos governamentais e outros de grande alcance social. Move todas as suas influências. Tenta escapar ao naufrágio no mar tormentoso do mundo. Mar tenebroso, o que agora atravessamos. Os governos não nacionalizam, não propõem o fim de paraísos fiscais e zonas francas, e continuam a apostar na concessão de crédito para financiar o investimento, mas na sociedade de consumo já não é a poupança que suporta o crédito, mas antes a produção monetária nas rotativas. Usam agora os contribuintes endividados como fiadores e financiadores de bancos falidos e de empresas mal geridas. E ainda nos querem fazer crer que estão realmente indignados porque os bancos não fazem chegar os financiamentos às empresas. Será que somos assim tão ingénuos?

Canalizam-se os recursos dos contribuintes para o benefício de alguns accionistas, num processo de concentração sem precedentes, de poder e riqueza. Mas o contexto não deixa de ser agónico. Algumas ruas gregas já perceberam e gritam contra a plutocracia. É só o começo da bernarda.

Virão dias de bonança, quando menos esperarmos. Restará saber se o navio neoliberal ainda navegará ou se terá sido tragado para as profundezas do oceano. O capitalismo assumirá então novas formas.

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