quinta-feira, agosto 26, 2010

A Grande Máquina


Quanto mais o cidadão metropolitano perdeu a intimidade com os outros, quanto mais se tornou incapaz de olhar os seus semelhantes nos olhos, mais consoladora se torna a intimidade com o dispositivo, que aprendeu a perscrutar-lhe a retina: quanto mais se desprendeu de qualquer identidade e qualquer pertença real, mais gratificante se torna para ele ser reconhecido pela Grande Máquina, nas suas infinitas e minuciosas variantes, da barreira giratória do acesso ao metro à caixa multibanco, da telecâmara que o observa benévola enquanto entra no banco ou anda pela rua, ao dispositivo que lhe abre a porta da garagem, e ao futuro cartão de identidade obrigatório que o reconhecerá, sempre e em qualquer parte, inexoravelmente como aquele que é. Existo se a Máquina me reconhece ou, pelo menos, me vê; estou vivo se a Máquina, que não conhece sono ou vigília, mas se mantém eternamente desperta, garante que estou vivo; não estou esquecido se a Grande Máquina regista os meus dados numéricos ou digitais.

Giorgio Agamben, Nudez, Relógio D’Água, 2010, Pág. 69.

Da Grande Máquina ao Big Brother se traça o caminho para o totalitarismo. Imperceptivelmente vamos cedendo a nossa liberdade à Grande Máquina e tudo pelas melhores razões.

terça-feira, agosto 24, 2010

Where? Middle Age. When? Portugal.




Às vezes, o lugar é o tempo e o tempo o lugar.

Um período, um espaço de tempo; um lugar, um tempo de espaço.

domingo, agosto 22, 2010

«Pode muito bem acontecer que alguém pense bem, mas não seja capaz de exprimir com correcção aquilo que pensa; mas isto de uma pessoa pôr por escrito as suas reflexões, quando não sabe dar-lhes ordem nem brilho, nem aliciar o leitor com um certo encanto, é de quem abusa desmedidamente do vagar que tem e das letras.»

Cícero, Tusculanas, 45 a.C.

Citado por Maria Helena da Rocha Pereira, Estudos de História da Cultura Clássica, II Volume – Cultura Romana, 3ª Edição, Fundação Calouste Gulbenkian, 2002. Pág. 130.

sexta-feira, agosto 20, 2010

Pardon?

Incêndio no Alijó (19-08-2010)

"Estava a cumprir uma pena de prisão em regime de dias livres." (Noticiado na TV a propósito da captura de um pirómano, suspeito de atear um fogo no centro do país).

quinta-feira, agosto 19, 2010

Calamidades naturais e desigualdades sociais


«In particular, there is no natural equality when it comes to ‘natural’ risks but, instead, social inequality in intensified form, the privileged and the non-privileged. Whereas some countries or groups are able to some degree to absorb the consequences of tornadoes or floods, others, the non-privileged on the scale of social vulnerability, experience the collapse of societal order and the escalation of violence.»
Beck, Ulrich (2010), “Remapping social inequalities in an age of climate change”, Global Networks 10, 2, p. 175
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Em curtas palavras, as catástrofes ambientais ampliam as desigualdades sociais entre os países e entre grupos privilegiados e não privilegiados, e embora todos sejam susceptíveis aos mesmos riscos naturais, é o seu maior ou menor grau de vulnerabilidade social que determina a intensidade do impacto sofrido pelos membros de uma determinada sociedade.

quarta-feira, agosto 18, 2010

Do desespero

Há grandeza no tormento de É desesperante ver uma criança desesperada porque o mundo ruiu à sua volta, ao contrário do desespero de uma criança que berra num centro comercial porque lhe negaram o sorvete que exigia.

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terça-feira, agosto 17, 2010

sábado, agosto 14, 2010

As alterações climáticas e o aquecimento global


Título: Cenários de aumento da temperatura global. Legenda: Ano de referência - 2000
O Die Welt publicou uma excelente reportagem sobre o aquecimento global e as alterações climáticas. (Clicar aqui).

Os cenários não são promissores.

Aguarda-nos mais calor, mais incêndios, mais seca, desflorestação, alterações climáticas e a submersão de áreas estuarinas e costas baixas. A nós, aos nossos filhos e aos nossos netos.

Título: Variação da precipitação em percentagem para 2080-2099 tendo como base os valores da década de 1980-1999.

No nosso país, o Algarve e o Alentejo encontram-se entre as regiões do planeta que irão sofrer as maiores reduções percentuais de precipitação no final deste século. É por aqui que o deserto vai entrar na Europa.

O desafio que iremos enfrentar (se é que já não o estamos a enfrentar) será enorme.

Talvez os nossos filhos e netos tenham de lutar contra os espanhóis pela água.

Mas ainda há quem não acredite na evidência do aquecimento global. É tão estúpido como não acreditar que o Homem pisou a Lua.

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