quinta-feira, novembro 22, 2007

Sócrates e o ensino no Estado democrático

Disse Sócrates na República de Platão:
Ainda há estes pequenos inconvenientes: num Estado assim [democrático], o professor teme e lisonjeia os discípulos, e estes têm os mestres em pouca conta; outro tanto com os preceptores. No conjunto, os jovens imitam os mais velhos, e competem com eles em palavras e acções; ao passo que os anciãos condescendem com os novos, enchem-se de vivacidade e espírito, a imitar os jovens, a fim de não parecerem aborrecidos e autoritários. (Platão, A República, pág. 394)

Mas o excesso de liberdade, meu amigo, que aparece num Estado desses, é quando os homens e mulheres comprados não são em nada menos livres que os compradores. (Platão, A República, pág. 394)

Substitua-se a expressão “homens e mulheres comprados” pelo termo “assalariados”, e “compradores” pelo termo “empregadores” e temos então a aplicação desta ideia aos dias de hoje.

No passado o pedagogo era o escravo que levava o aluno, o filho do nobre ou do aristocrata, ao Mestre. Actualmente os professores são cada vez mais pedagogos, e cada vez menos, mestres. E o Nobre nos tempos democráticos é o Povo, pois é ele quem mais ordena. O que significa que os professores tendem a ser cada vez mais, uma espécie de escravos do Povo. E o sistema de ensino vigente, onde os políticos, representantes populares, mais ordenam, é a estrutura que suporta esta tendência.

Quando os mestres são convertidos em escravos é a educação que se escraviza. E é por aqui que se perde a Liberdade.

Sócrates advertiu há cerca de 2500 anos atrás:

É que, na realidade, o excesso costuma ser correspondido por uma mudança radical, no sentido oposto… (Platão, A República, pág. 396)

E o oposto da liberdade é sem dúvida a escravatura.

Actualmente nas nossas sociedades, ditas Ocidentais, vivemos sem dúvida, tempos de excesso…

E Sócrates concluiu peremptoriamente:

A liberdade em excesso, portanto, não conduz a mais nada que não seja a escravatura em excesso, quer para o indivíduo quer para o Estado. (Platão, A República, pág. 396)

Infelizmente parece que caminhamos paulatinamente e imparavelmente, no sentido apontado por Sócrates. O processo está em marcha e a educação dos tempos democráticos, já definha.

Nota: as citações foram retiradas da obra de Platão, A República, Fundação Calouste Gulbenkian, 9ª Edição, pp. 394-396.

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