ASNOGRAFIA*
Leio num dicionário: «Asnografia: s.f.: diz-se, ironicamente, da descrição do asno».
Pobre asno! Tão bom, tão nobre, tão arguto, como tu és! Ironicamente…Porquê? Nem uma descrição séria mereces, tu, cuja descrição certa seria um conto de primavera? Se até ao homem que é bom se deveria chamar asno! Ironicamente…De ti, tão intelectual, amigo do velho e da criança, do arroio e da borboleta, do sol e do cão, da flor e da lua, paciente e reflectido, melancólico e amável, Marco Aurélio dos prados…
Platero, que sem dúvida compreende, olha-me fixamente com os grandes olhos brilhantes, de uma branda dureza, onde brilha o sol, pequenito e chispeante num breve e convexo firmamento negro. Ai! Se a sua peluda cabeça idílica soubesse que lhe faço justiça, que eu sou melhor do que esses homens que escrevem Dicionários, quase tão bom como ele!
E escrevi à margem do livro: «Asnografia: s.f.: deve dizer-se com ironia, claro está!, da descrição do homem imbecil que escreve Dicionários»
Leio num dicionário: «Asnografia: s.f.: diz-se, ironicamente, da descrição do asno».
Pobre asno! Tão bom, tão nobre, tão arguto, como tu és! Ironicamente…Porquê? Nem uma descrição séria mereces, tu, cuja descrição certa seria um conto de primavera? Se até ao homem que é bom se deveria chamar asno! Ironicamente…De ti, tão intelectual, amigo do velho e da criança, do arroio e da borboleta, do sol e do cão, da flor e da lua, paciente e reflectido, melancólico e amável, Marco Aurélio dos prados…
Platero, que sem dúvida compreende, olha-me fixamente com os grandes olhos brilhantes, de uma branda dureza, onde brilha o sol, pequenito e chispeante num breve e convexo firmamento negro. Ai! Se a sua peluda cabeça idílica soubesse que lhe faço justiça, que eu sou melhor do que esses homens que escrevem Dicionários, quase tão bom como ele!
E escrevi à margem do livro: «Asnografia: s.f.: deve dizer-se com ironia, claro está!, da descrição do homem imbecil que escreve Dicionários»
Juan Ramón Jiménez
(*) in Trocar de Rosa, do saudoso poeta Eugénio de Andrade, que traduziu e me deu a conhecer Juan Ramón Jiménez.
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