![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHZj8jO3X3VNnT8W4Hug17wlSJqxmBoW_BKE9aByzaf8RIAlQb-QbIi0pYfdeCpiE5W_dL4zaNKHdu-te0TYDTOmRyOIyehGGS9_tQKmNOmoArHiHTcPTTsplGoftUn5bJy7_uHw/s200/steiner.jpg)
Steiner é elucidativo, quando defende a memória, ao ponto de a colocar ao serviço da liberdade e integridade do nosso ser:
O texto memorizado interage com a nossa existência temporal, modificando as nossas experiências e sendo dialecticamente modificado por elas. Quanto mais vigoroso for o músculo da memória, melhor protegido estará o nosso ser integral. O censor ou a polícia do estado não podem extirpar o poema memorizado (veja-se a sobrevivência dos poemas de Mandelstam através da transmissão oral, na impossibilidade de uma versão escrita). Nos campos de morte, certos rabinos e estudiosos do Talmude eram conhecidos como «livros vivos» cujas páginas podiam ser «consultadas» por outros prisioneiros em busca de um conselho ou de uma palavra de consolo. A grande literatura épica, a dos mitos fundadores, começou a declinar com o «progresso» em direcção à escrita. Por tudo isto, a rejeição da memória no actual sistema escolar é de uma flagrante estupidez. A consciência humana está a menosprezar e a ignorar o seu lastro vital.
Steiner, George (2003), As Lições dos Mestres, Gradiva, Lisboa, pág.35.