Por aqui têm desfilado personalidades de vulto, mestres, que nos avivam a memória para o facto de que vivemos actualmente um grande paradoxo: é exactamente no momento em que mais proliferam os suportes mediáticos da memória, que o passado, em particular o mais recente, “o passado público” da época em que vivemos, se obscurece na memória dos homens, principalmente, na dos homens jovens. Vivemos numa espécie de “presente contínuo”, à deriva, sem qualquer vinculação à experiência vivida pelas gerações passadas.
Senhoras e Senhores, Eric Hobsbaw:
A destruição do passado – ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam a nossa experiência pessoal à das gerações passadas – é um dos fenómenos mais característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem. Por isso os historiadores, cujo ofício é lembrar o que outros esquecem, tornam-se mais importantes que nunca no fim do segundo milénio. Porém, por esse mesmo motivo, eles têm de ser mais que simples cronistas, memorialistas e compiladores, embora essa seja também uma função necessária do historiador.
Hobsbawm, Eric, A Era dos Extremos, Editorial Presença, 1996, Pág. 15.