(poema de Fernando Pessoa, anos 30)
António de Oliveira Salazar.
Três nomes em sequência regular…
António é António.
Oliveira é uma árvore.
Salazar é só apelido.
Até aí está bem.
O que não faz sentido.
É o sentido que tudo isto tem.
Este senhor Salazar
É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
A água dissolve
O sal,
E sob o céu
Fica só azar, é natural.
Oh, c’os diabos!
Parece que já choveu…
Coitadinho
Do tiranozinho!
Não bebe vinho.
Nem sequer sozinho…
Bebe a verdade
E a liberdade.
E com tal agrado
Que já começaram
A escassear no mercado.
Coitadinho
Do tiranozinho!
O meu vizinho
Está na Guiné
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé.
Mas ninguém sabe porquê.
Mas, enfim é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé.
Que o coitadinho
Do tiranozinho
Não bebe vinho,
Nem até
Café.
(extraído da obra; Fernando Pessoa, Obra Poética e em Prosa, Vol. 1, Lello & Irmão – Editores, Porto, 1986, págs. 578-579.)
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