sábado, abril 11, 2009

Enquanto vivemos, temos de aprender a viver!

Aos poucos reforça-se em mim a ideia de que realmente somos anões empoleirados nos ombros de gigantes e por isso o nosso olhar alcança mais longe e vislumbra outros horizontes mais vastos. Ontem ao abrir ao acaso um livro recentemente adquirido do Filósofo Séneca, eis que deparo com ela: a Educação. Não resisto por isso a publicar o dito excerto em que o Filósofo responde ao seu amigo Lucílio, e, ao mesmo tempo, ao que parece ser, ao seu alter-ego, que o confronta com o facto de regressar à escola na sua velhice. Reza assim:

«Ameaças cortar relações comigo se não te der parte de todas as minhas acções diárias. Ora vê com que franqueza eu te abro a minha vida, se até isto te vou confessar: ando a escutar as lições de um filósofo, já há cinco dias que frequento a sua escola onde assisto desde as duas horas da tarde às suas prelecções! "Bela idade para ir à escola?!” E porque não? Não será o cúmulo da insensatez desistir de estudar só porque há muito tempo já se deixou a escola? “Ora essa! Então hei-de pôr-me ao nível dos miúdos, dos adolescentes?” Dar-me-ei por muito satisfeito se a minha velhice me não der outros motivos de que me envergonhe: a escola da filosofia aceita gente de todas as idades. “Então é por isso que envelhecemos, para imitar os jovens?” Pois se eu apesar de velho, posso ir ao teatro e ao circo, se não há um combate de gladiadores a que eu não assista, porque hei-de envergonhar-me de ir assistir às lições de um filósofo?...Temos de estudar enquanto formos ignorantes; e, se é verdadeiro o provérbio, temos de aprender até morrer! Em nenhum caso aliás, o ditado se aplica melhor do que neste: enquanto vivermos, temos de aprender a viver!»

Séneca; Cartas a Lucílio, 3ª edição, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2007, pp. 310-311.

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