quarta-feira, julho 29, 2009

O Mal

«O mal, eu afirmo, não é contingente, não é a ausência, ou deformação, ou a subversão da virtude (ou seja o que for que pensemos como seu oposto), mas um facto obstinado e irremissível.»

Kolakowski, "The Devil in History", in My Correct Views

terça-feira, julho 28, 2009

O Destino

O Destino existe. Pressentimo-lo. Pressentiram-no os antigos povos. E pressentiram mais: nem os deuses, nem os homens o podiam iludir por muito tempo. Tudo acabaria sempre por regressar aos seus estranhos desígnios, contra todos os esforços de deuses e humanos. Mas os primeiros conheciam-no melhor. Conseguiam sustê-lo por mais tempo, mas já no limite das suas forças, tinham que o largar e dar-lhe livre curso. É como um rio imorredouro que ninguém pode impedir que corra e que retorna sempre ao seu curso, contra todos os esforços. Hoje sonhei com uma mulher que amei em tempos. E que, pelos vistos, não consigo deixar de amar. Por que sonhei? Não sei. Por que a amei? Não sei. Só sei que o Destino a trouxe e o Destino a levou.

O dia nasceu.

Os melros já cantam à minha janela, como em todas as manhãs. E isso ninguém consegue mudar.

quarta-feira, julho 22, 2009

Comunismo vs Capitalismo

No comunismo o indivíduo perde-se no colectivo.

No capitalismo o colectivo perde-se no indivíduo.

segunda-feira, julho 20, 2009

Assim choram os deuses

E o poente tem cores
Da dor dum deus longínquo
E ouve-se soluçar
Para além das esferas...

Ricardo Reis (12-06-1914)

Ainda o marfim...

Loxodonta africana

Vinte anos após a proibição de comércio de marfim, eis que voltam a tocar a rebate os sinos de alarme.

Afinal neste ínterim prosseguiu a caça, porque o comércio de marfim foi permitido em determinados períodos excepcionais. O suficiente para galvanizar caçadores, furtivos e autorizados, e comerciantes de marfim.

Mas, qual é a surpresa? Não relatam os viajantes a existência de lojas em Adis Abeba e em Harar, na Etiópia e no Quénia?

«O comércio de marfim era ilegal, de maneira que eu insisti no assunto. Tinha ouvido dizer que circulavam grandes quantidades de marfim de elefantes caçados furtivamente. Mas embora tivesse visto bocados dele à venda em lojas, nunca tinha visto dentes inteiros, e não sabia qual era o seu preço no mercado; na verdade embora me tivessem dito que o seu comércio florescia, em Harar e noutros pontos, não fazia ideia de que podia, muito simplesmente, entrar numa pequena loja de Adis Abeba e dizer: “Queria comprar uns dentes de elefante, por favor.”»

Paul Theroux (2002), Viagem por África, Círculo de Leitores, página 155.

Continua o saque, no coração das trevas.

domingo, julho 19, 2009

Memória Esquecida

«O que é significativo na época de transformação actual é a singular despreocupação com que abandonámos não só as prácticas do passado - isso é bastante normal, e não tão alarmante - mas a sua própria memória. Um mundo que mal acabámos de perder já está meio esquecido.» (pág. 17)

(...)

«Em muitos países, "pôr o passado para trás" - ou seja, concordar em superar ou esquecer (ou negar) uma memória recente de extermínio mútuo e violência intercomunitária - foi um objectivo primordial dos governos do pós-guerra: às vezes conseguido, às vezes demasiado conseguido.» (pág. 18)

(...)

«Mas mesmo na Europa uma nova geração de cidadãos e políticos está cada vez mais esquecida da história: ironicamente, é o que acontece em especial nos países ex-comunistas da Europa Central, onde "construir o capitalismo" e "tornar-se rico" são as novas metas colectivas, enquanto a democracia é tida por garantida e até encarada em alguns quadrantes como um estorvo.» (pág. 31)

Tony Judt, O Século XX Esquecido - Lugares e Memórias, Edições 70

domingo, julho 12, 2009

Certezas ou meias-verdades?


«Com confiança de mais e reflexão de menos, pusemos o século XX para trás e, a passos largos, entrámos com ousadia no seu sucessor, ataviados com meias-verdades convenientes: o triunfo do Ocidente, o fim da História, a hora unipolar americana, a marcha inelutável da globalização e do mercado livre.»

Tony Judt, O Século XX Esquecido - Lugares e Memórias, Edições 70

sábado, julho 11, 2009

A arte da fuga

Entre a espada e a parede, o alçapão!

Em tempos ouvi dizer de alguém mais aguerrido, que quando o colocavam entre a espada e a parede, preferia a espada. Mas há sempre uma solução quando parece não haver nenhuma. Uma delas é desaparecer, como que por artes mágicas, e voltar a reaparecer noutro lugar, são e salvo, longe da espada e da parede, mas principalmente, longe de quem empunha a espada. Como nos filmes antigos, mudos e a preto e branco, em que o herói acossado pelo vilão desaparece por detrás de uma cortina de fumo, ante a surpresa do agressor e do espectador. Já com a ponta da espada encostada ao pescoço, plim! E o herói reaparece a milhas…

É a suprema arte da fuga!

quarta-feira, julho 08, 2009

Ao correr do marfim...


A devastação iniciada em África no século XIX continua, agora com a conivência e até a participação de governos corruptos, opressores do seu próprio povo. O fim do colonialismo não foi o início da liberdade, antes pelo contrário... Em África ainda não se respira liberdade e todos de lá querem sair.
E assim continua a correr o marfim... a madeira, o petróleo, o ouro, os diamantes, os animais...Tudo é consumido à velocidade da luz.
Prossegue a devastação no coração das trevas.

terça-feira, julho 07, 2009

A Nossa Força...


«Não eram colonizadores; desconfio que o seu governo se limitava a extorquir e nada mais. Eram conquistadores, e para isso bastava a força bruta - nada que seja motivo de vanglória, quando a temos, porque a nossa força não passa de um acaso decorrente da fraqueza dos outros. Apoderavam-se do que podiam só pelo prazer de se apoderarem. Tratava-se apenas de roubo com violência, assassínio agravado em grande escala e homens que se entregavam a isso às cegas, como aliás é próprio daqueles que enfrentam as trevas. A conquista da terra, que significa, sobretudo, tirá-la àqueles que têm uma cor da pele diferente ou o nariz ligeiramente mais achatado que o nosso, não é coisa bonita de se ver, se repararmos bem.»

Joseph Conrad, O Coração das Trevas

quarta-feira, julho 01, 2009

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