Não é preciso ser muito inteligente para adivinhar a derrota de Manuela Ferreira Leite (MFL) nas próximas eleições. A senhora perde em quase todas as frentes quando comparada ao seu adversário. É que o PSD descuidou o marketing. Sabemos hoje que se vendem políticas (e políticos) como se vendem sabonetes (que o digam Berlusconi, com o seu botox, Obama e Blair, com a sua juventude e sorrisos pepsodent).
O PSD descuidou a imagem e a mensagem (e o media é a mensagem).
Vejamos a imagem:
- MFL é idosa, respeitável é verdade, mas conservadora, quase reaccionária; Sócrates é mais jovem e progressista, faz jogging entre o povo (quando não é o povo - professores, enfermeiros, polícias, agricultores, etc. - a correr atrás dele).
- MFL é mulher e Sócrates é homem (este é um argumento perverso e machista, mas sejamos realistas: quantas primeiros-ministros teve Portugal?)
- MFL sorri menos vezes que Sócrates (este parece ter melhor dentadura e mostra-a mais vezes).
E na mensagem, atendendo também à sua forma:
- MFL diz que é necessário travar, Sócrates diz para se avançar (é certo que pode ser para o abismo, mas não deixa de ser para avançar).
- MFL apresenta uma mensagem negativa e imobilista (não façamos, que estamos em crise); Sócrates positiva e construtiva (avancemos que a crise há-de passar).
- MFL põe em causa a capacidade dos portugueses para ultrapassarem desafios (como o TGV e o pagamento da dívida); Sócrates parece confiar na capacidade dos portugueses para fazerem face a tais desafios (TGV entre outros).
A mensagem de MFL incute medo (tenham medo, muito medo se eles ganharem; lança suspeições, lembra-nos as asfixias democráticas, represálias, escutas telefónicas, um Estado persecutório); Sócrates em certa medida também (os socialistas falam do tempo da “outra senhora”, da ameaça que representa MFL para o sistema de nacional de saúde e da sua ânsia privatizadora, da asfixia social, entre outros assuntos). Sócrates apresenta-se menos desconfiado (a não ser em relação às perguntas e observações da jornalista Judite de Sousa).
Os partidários de MFL, como Marcelo Rebelo de Sousa, apelam ao voto negativo - dizem que a única forma de derrotar Sócrates é votar em MFL (como se os portugueses só votassem para derrotar alguém e não votassem em propostas e em políticas). O voto em Sócrates, nesse sentido, não é um voto negativo, na medida em que não pode propor que votem no seu partido como única forma de o derrubarem.
Por tudo isto e muito mais, para mal dos nossos pecados, adivinha-se que vamos ter mais Sócrates, sem maioria absoluta (e ainda bem), mas possivelmente coligado com outros partidos, ou com acordos e cedências pós-eleitorais, mas isso já é outra questão.