terça-feira, janeiro 26, 2010

A globalização atingiu em cheio o Algarve Oriental

Quando éramos crianças passeávamos alegremente ao lombo de velhos burros, nos verões quentes dos idos anos 70.

Muitas vezes éramos surpreendidos por sonoros zurros que ecoavam nas ruas tortuosas da aldeia. Os grunhidos eram omnipresentes. Bovinos, muares, caprinos e ovinos povoavam os estábulos. As casas, entre estrumeiras e pocilgas, não tinham electricidade nem água canalizada e os fogões ainda funcionavam a lenha. Pendurados nas chaminés secavam chouriços. Ao entardecer as mulheres transportavam cântaros à cabeça e reuniam-se junto às noras, centros de convívio local. Os homens, quando regressavam da lavoura ou das salinas, reuniam-se nas tabernas e bebiam vinho, muitas vezes até à embriaguez. Ao fim da tarde, nos pátios e nos quintais, ouvia-se a algaraviada da gente feliz. Candeeiros a petróleo alumiavam as noites estreladas. A civilização rural ainda fervilhava nas aldeias do Algarve Oriental, sem pressentir que estava à beira do fim.

***

Volvidos 40 anos, tudo mudou.

Os campos de golfe invadiram a arcádia algarvia. Antigos montes convivem agora com moradias de 500 000 euros e mais.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Etiquetas