domingo, fevereiro 27, 2011

Razões para ser crítico

Ser descontente é ser homem.

Fernando Pessoa, Mensagem


Como podemos nós estar contentes com o mundo, tal qual se nos apresenta hoje? Há mil razões para ser crítico. Não compreendo por isso os contentes deste mundo. Os alinhados do capitalismo. Os felizes com tanta infelicidade, quando caminhamos cada vez mais rapidamente para o precipício. Esse precipício que nos chama e ao qual hipnoticamente respondemos, avançando paulatinamente na sua direcção. É preciso travar a lenta marcha que a ele nos conduz. É preciso ser crítico. Há fortes razões, económicas, sociais e ambientais que reforçam o nosso descontentamento.


Podemos sentir-nos contentes quando destroem florestas equatoriais inteiras para as transformar em lucrativos palmeirais ou em extensos desertos verdes de soja?

Podemos sentir-nos contentes com o aumento das desigualdades socioeconómicas ao nível planetário, com o depauperamento de vastas camadas da população mundial, com o desemprego, só para alimentar a injusta concentração de riqueza nuns poucos?

Podemos sentir-nos contentes com a extinção das espécies e das tribos das florestas sempre verdes, com a sua rica cultura?

Podemos sentir-nos contentes com a transformação em mercadoria do planeta inteiro e de tudo o que ele contém?

Podemos sentir-nos contentes com a continuada exploração do Homem pelo Homem?

Podemos sentir-nos contentes com o aquecimento global e com as alterações climáticas?

Enfim, poderia continuar, ad aeternum, com estas questões. Mas sabem que mais? Há quem esteja contente. É contra esses e contra o sistema que defendem – o neoliberalismo - que deveremos dirigir o nosso descontentamento e assestar as nossas armas. É preciso desacreditá-los. Há que ser crítico portanto.

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