terça-feira, maio 03, 2011

Natureza


A Natureza é cultural. A Cultura é natural. Dissociar o Homem da Natureza é um artificialismo grosseiro que altera a forma de ler o mundo.
Afinal o que é a Natureza? E o que é o Homem? Não faz o Homem parte da Natureza? Que sentido faz então, dissociar estas duas categorias quando se estudam os fenómenos à superfície da Terra?

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«A natureza tem sido modificada pela acção humana ao longo dos tempos. O ambiente é uma categoria que tem de incluir campos que foram desbravados, pântanos e zonas húmidas que foram dre­nados, rios que foram sujeitos a transformações e estuários que foram dragados, florestas que foram abatidas e replantadas, estra­das, canais, sistemas de irrigação, vias-férreas, portos e ancora­douros, pistas de aterragem e terminais, barragens, centrais gera­doras de energia e centrais distribuidoras de electricidade, redes de canalização e de esgotos, cabos e redes de comunicação, enormes cidades, subúrbios que alastram, fábricas, escolas, casas, hospitais, centros comerciais e destinos turísticos. Acresce que esses am­bientes são habitados por espécies inteiramente novas (cães, gatos, estirpes de gado e galinhas sem penas) concebidos por práticas reprodutivas selectivas (suplementadas hoje por práticas directas de engenharia genética que modificam culturas como o milho e os tomates) ou que sofreram mutações ou encontraram novos nichos ambientais (pensemos nos padrões de doenças, como a gripe das aves, que sofreram mutações e começaram por se instalar nos ambientes recém-construídos da criação em fábrica de galinhas sem penas). Pouco resta à superfície do planeta Terra que possa ser concebido como natureza pura e original, sem a mão do homem. Por outro lado, é absolutamente natural as espécies, incluindo a nossa, mo­dificarem o seu ambiente para que possam reproduzir-se. Fazem­-no as formigas, as abelhas e, da forma mais espectacular, os castores. Do mesmo modo que um formigueiro é absolutamente natural, também a cidade de Nova Iorque o é, decerto.»

David Harvey, O Enigma do Capital, Bizâncio, 2011, pág. 100

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