sexta-feira, junho 10, 2011

O neoliberalismo e os que não crêem em tal

"Se o imoralismo é intolerável pela sua insensibilidade em relação ao real individual e social, o neo-liberalismo económico fractura a comunidade, cria uma sociedade dual, assegura a lei do mais rico, compromete o futuro. Mais do que nunca, devemos rejeitar a «ética da convicção», tanto quanto o moralismo da «mão invisível», em benefício de uma ética dialogada da responsabilidade, virada para a procura de equilíbrios adequados entre eficácia e equidade, para os interesses dos assalariados, para o respeito do indivíduo e do bem colectivo, presente e futuro, liberdade e solidariedade."

Gilles Lipovetsky, O Crepúsculo do Dever: A Ética Indolor dos Novos Tempos Democráticos, Publicações Dom Quixote, 2004. Pág. 23.

***
Em muitas enciclopédias de Política e Economia não encontramos a entrada do termo "neoliberalismo". Exceptuam-se as de Sociologia, Geografia e de outras ciências sociais. Os defensores desse dogma (ou ramificação do capitalismo), abominam o rótulo "neoliberal". Consideram uma idiotice o seu emprego. Tal coisa não existe, dizem, a não ser na boca de esquerdistas. Não querem reflectir no facto de filósofos, - tão ou mais eminentes ou insuspeitos como Gilles Lipovetsky -, geógrafos, antropólogos, e muitos outros académicos, entre os quais também economistas e cientistas políticos, empregarem o termo sem qualquer pudor. Existem obras enciclopédicas sobre o neoliberalismo, teses, estudos, histórias do neoliberalismo, etc. Mas essa gente continua a negar a evidência. Fazem lembrar os criacionistas, descrentes na teoria da evolução das espécies, ou os dogmáticos da Santa Inquisição, que condenavam as evidências da teoria heliocêntrica.

3 comentários:

  1. As palavras perseguidas. Excelente texto, a lembrar
    que de "materialismo dialéctico" ninguém ousa falar...
    (nem nas universidades, creio)

    ResponderEliminar
  2. V. coloca bem a questão. Mas há um ponto suplementar (que não invalida, claro, o seu ponto). É que "neo-liberalismo)é usado como jargão, até academicamente. Põe-se e não se define, surge fluído. Num blog, num jornal, nas nossas conversas, está bem. Nos textos mais "pesados" não, e isso é constante.
    Este meu comentário vem-me porque passo a vida a perguntar aos alunos que se fartam de usar o termo: "o que entende por isto?" e eles "haah". Pois são vítimas da vulgarização, acrítica.

    ResponderEliminar
  3. Os alunos, se quiserem, podem começar a pesquisar por aqui:

    Brenner, Neil; Theodore, Nik (edits.); Spaces of Neoliberalism: Urban Restructuring in North America and Western Europe, Wiley-Blackwell, 2003.

    Harvey, David, A Brief History of Neoliberalism, Oxford University Press. 2005.

    Mirowski, Philip; Plehwe, Pieter (edits.), The Road from Mont Pelerin: The Making of the Neoliberal Thought Collective, Harvard University Press, 2009.

    Peck, Jamie; Tickel, Adam (2002), “Neoliberalizing Space”, Antipode, Vol. 34, Issue 3, Pág. 380-404, July 2002.

    Entradas em enciclopédias:

    Gamble, Andrew (2007), “Neoliberalism” in The Blackwell Encyclopedia of Sociology, Blackwell Publishing, pág. 3175.

    Larner, W. (2009), “Neoliberalism” in International Encyclopedia of Human Geography, Elsevier.

    ***
    Em todas estas obras se define com precisão o que é o neoliberalismo.

    A questão da aceitação e rigor científico do termo “neoliberalismo” é recorrente, sendo de tempos a tempos aflorada, como foi o caso, neste post abaixo:

    http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2008/12/preciso-do-neoliberalismo.html

    ResponderEliminar

Etiquetas