domingo, novembro 06, 2011

Povo-boi

A apropriação dos rendimentos do trabalho prossegue à vista desarmada, e o povo a ruminar numa pacata mansidão. É espantoso!

Parece que nunca abandonámos da nossa memória colectiva a vivência dos tempos de uma "casa portuguesa, com certeza: pão e vinho sobre a mesa." Esses tempos em que tudo nos faltava, menos a açorda e o vinho (e os meninos do povo animavam-se com “sopas de cavalo cansado” e trabalho), que a carne ou o peixe, nem vê-los – coisa de burgueses. Até a liberdade nos faltava, ou a liberdade acima de tudo. Comia-se açorda e bebia-se vinho. Fado, Fátima e Futebol. Os anos em que todos éramos magriços. Foram muitos anos de Estado Novo. Anos que não se apagaram. Os “brandos costumes”, mil vezes martelados aos nossos ouvidos por uma insidiosa propaganda, e a coerção pidesca, amansaram-nos. Até a Revolução foi uma coisa de flores.

Os tempos de falsa prosperidade foram breves e, pelos vistos, não foram suficientes para iludir os portugueses da sua condição de pobre povo do cú da Europa. Os “cafres da Europa”, já dizia o Padre António Vieira. Só assim se consegue explicar a apatia e a plasticidade de um povo, que tão bem se adapta a estes tempos de infortúnio e abuso. É um povo-boi que tudo suporta.

Pobre povo.

P.S. – 5 milhões de entre nós (1/3 dos portugueses no mundo) foram-se embora. Não estiveram para isto.

2 comentários:

  1. Pobre povo, de facto! E pior é quando não tem sequer consciência de que é povo e vota como se à nobreza pertencesse... Em todo o caso, quanto ao vinho, é como refiro no meu post do mês passado sobre poupança ;)
    Abraço,
    Madalena

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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