«Mas é bom lembrar também
que grande parte da presente geração de jovens jamais experimentou grandes
privações, como uma depressão económica prolongada, desprovida de perspectivas
e com desemprego em massa. Eles nasceram e cresceram num mundo em que podiam se
abrigar sob guarda-chuvas socialmente produzidos e administrados, à prova de
ventos e tempestades, que pareciam estar ali desde sempre para protegê-los do
mau tempo, da chuva fria e dos ventos gelados. Um mundo em que cada manhã
prometia um dia mais ensolarado que o anterior e mais rico de aventuras
agradáveis.
Enquanto
escrevo estas linhas, as nuvens se acumulam sobre esse mundo. A feliz,
confiante e promissora condição que os jovens acabaram por considerar como o
estado "natural" do mundo pode estar desmoronando. Uma depressão económica
(que, como dão a entender alguns observadores, ameaça se revelar tão ou mais
profunda que as crises que a geração dos pais sofreu na juventude) talvez
esteja à espreita na primeira esquina.»
Zygmunt Bauman (2010); Capitalismo
Parasitário e Outros Temas Contemporâneos, Zahar Editores. Rio de Janeiro.
Pág. 71-72.
***
Neste momento já se abate a tempestade e o guarda-chuva já lá vai,
levado pelo vento neoliberal. Pobre juventude. Venceram os poucos que
astutamente procuraram abrigo nas juventudes partidárias e trataram de assegurar,
por portas e travessas, um lugar no mundo do tráfico de influências.