Uma agenda económica para o crescimento, eis a solução, dizem eles (Barroso incluído).
Todos eles. Da direita à esquerda (deixemos agora a hemiplegia moral do Ortega y Gasset). Até a esquerda se deixou encurralar pelo pensamento do crescimento-económico-que-não-vem-e-que-é-preciso-que-venha-para-que-se-gere-emprego. Primeiro crescimento, depois emprego. O crescimento precede sempre o emprego nos discursos dos políticos e da ortodoxia económica vigente. Aguardamos portanto o crescimento que não vem,
como quem aguarda por Dom Sebastião. Eis onde está o actual pensamento económico
encurralado. O mesmo reduto do qual não conseguia sair no final dos anos 20 do
século passado. O resultado é conhecido: a Grande Crise Económica de 1929, com
prolongamento na década seguinte.
Como é que se sai deste reduto de pensamento?
Pois bem, e sem mais delongas: ao invés de uma agenda
económica para o crescimento, é necessária uma agenda social para o emprego. A criação de emprego em primeiro lugar. O crescimento económico
que venha depois.
Na realidade, o grande desafio dos tempos que atravessamos consiste na criação de emprego em contexto de recessão. Soa a quimera, não?! A verdade é que o crescimento
por si só, não é garante de criação de emprego, como muitos nos querem fazer crer.
Houve épocas, na história, em que o crescimento não foi acompanhado
pela geração de emprego. Houve épocas em que foi o emprego o gerador do crescimento.
Seguem-se dois excertos:
(os destaques são nossos)
“Entre 1929 e 1933, o PNB [americano] diminuiu cerca de 30 por cento e a taxa de desemprego aumentou de 3
para 25 por cento. Até ao início de 1931, a economia encontrava-se em grave
depressão, mas não muito diferente das experimentadas no século anterior. Foi
no período compreendido entre o início de 1931 e a presidência de Franklin
Roosevelt, em Março de 1933, que a Depressão se tomou "Grande". Mais
do que tudo o resto, a Grande Depressão é recordada pelo desemprego maciço que
provocou. Durante os 10 anos de 1931 a 1940, a taxa de desemprego registou uma
média de 18,8 por cento, que se situa entre o ponto mínimo de 14,3 por cento em
1937 e o ponto máximo de 24,9 por cento em 1933. Em contraste, o máximo do
pós-Segunda Guerra Mundial, atingido em 1982, situou-se abaixo dos 11 por
cento.
O investimento diminuiu drasticamente durante a Grande Depressão; na
verdade, o investimento líquido foi negativo de 1931 a 1935. O índice de preços
no consumidor diminuiu cerca de 25 por cento de 1929 a 1933.
Na recuperação, de 1933 a 1937, o
PNB real aumentou a uma taxa anual rápida de cerca de 9 por cento, mas mesmo
isto não fez regressar a taxa de desemprego a níveis normais. A
seguir, em 1937 e 1938, houve uma recessão acentuada, incluída na Depressão,
levando a taxa de desemprego de novo para os 20 por cento, aproximadamente.
Na segunda metade da década, as taxas de juro de curto prazo, como a taxa do
papel comercial, estavam próximas do zero.
As duas questões mais importantes colocadas por estes acontecimentos
são: porque é que isto aconteceu, e poderia isto ter sido evitado? Sempre que a
economia está em recessão, pergunta-se aos economistas - e eles perguntam a si
próprios: pode "isto" suceder de novo?”
Rudiger Dornbush, Stanley Fisher, Richard Startz (1998), Macroeconomia, 7ª Ed., McGraw-Hill, p.
406
“O famoso economista britânico Angus Maddison passou toda a vida a
tentar recolher dados sobre a história da acumulação do capital. Segundo ele, a
produção total de bens e serviços na economia mundial capitalista equivalia, em
1820, a 694 mil milhões de dólares (em dólares constantes de 1990). Em 1913,
ascendera aos 2,7 biliões de dólares; em 1950, era de 5,3 biliões de dólares;
em 1973, de 16 biliões e, em 2003, rondava os 41 biliões. O relatório mais
recente do Banco Mundial, referente a 2009, avalia-a em 56,2 biliões de dólares
(ao valor actual), cabendo aos Estados Unidos cerca de 13,9 biliões. Ao longo
da história do capitalismo, a taxa de crescimento acumulado tem rondado os
2,25% por ano (negativa na década de 1930 e muito mais alta - cerca de 5% - no
período entre 1945 e 1973). Segundo o
actual consenso entre economistas e no seio da imprensa financeira, uma
economia capitalista «saudável», na qual a maioria dos capitalistas tem um
lucro razoável, expande-se 3% por ano. Se crescer menos do que isso, é
considerada lenta. Se descer abaixo de 1 %, fala-se em recessão e crise (muitos
capitalistas não têm lucro).
O primeiro-ministro britânico Gordon Brown, num ataque de optimismo
injustificado, argumentou em finais do Outono de 2009 que poderíamos esperar
que a economia mundial voltasse a duplicar nos próximos vinte anos. Obama
também espera que regressemos aos 3 % de crescimento «normal» em 2011. Se assim
for, em 2030, na economia global, haverá mais de 100 biliões de dólares. Será
necessário encontrar escoadouros lucrativos para um investimento extra no valor
de 3 biliões de dólares. Trata-se de um montante elevadíssimo.”
David Harvey (2011), O Enigma do Capital, E as Crises do
Capitalismo, Bizâncio, p. 40
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