Rafael, A Escola de Atenas (detalhe), 1509, Vaticano
Rafael, na sua Escola de Atenas, representou o divino Platão
que, com o Timeu numa mão, caminha solene pelo meio do pórtico, como um desses
ideais apontadores de dedo; o pensador levanta significativamente a mão livre
até acima e aponta o dedo a tudo o que «aí em cima» é o caso. A sua referência
aponta ao mundo urânico das ideias, do qual o «nosso» mundo representa uma
projecção ofuscada mais abaixo. O apontar de dedo de Platão dirige-se,
praticamente, de forma crítica, de baixo para cima, daqui para ali – como o gesto
de um homem que, indubitavelmente, esteve «aí» uma e outra vez, mas que agora
é, de novo, um dos nossos de cá de baixo, na penumbra da região dos mortais –
supõe-se que para oficiar a missão de auxiliador de transição.
Peter Sloterdijk, O Estranhamento do Mundo, Relógio D'Água, Lisboa, 2008, p. 136-137
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