Ouvido pela manhã, na Antena 1:
«A troika tem uma concepção muito
especial - acha que os culpados da crise em Portugal são os funcionários
públicos e portanto exige ao Governo que malhe nos nossos funcionários
públicos.
(...)
A coisa mais grave é a cedência
do Governo da República Portuguesa a este conceito de ataque ao conceito
público de serviço. Porque o que
nós temos aqui é: de uma maneira cega há que despedir um número “x” gigantesco,
e uma forma indirecta de o conseguir, que é esta questão da colocação na
mobilidade - isto antigamente chamava-se quadro geral de adidos - e pedir isto
a que governos sucessivos - não é a este, é a todo o governo - que se coloquem
30 000 pessoas num sítio onde durante anos e anos quer dizer… isto já estava previsto
há muitos anos, só conseguiram pôr 1000... Portanto, o que significa que vai
ser tudo feito de uma maneira totalmente irracional porque este é o mesmo
governo que não sabe quais são as necessidades (penso que houve um conferência
sobre a reforma do estado numa universidade qualquer e um nomeado, que por
acaso até era do PS, por este governo, para qualquer lugar, nem sei bem
especificar, disse que o problema estava no pessoal das cantinas outro nos
contínuos - e portanto são estes
palpites que marcam a acção de incompetência técnica total da parte do senhor
ministro das finanças e da administração pública...
(...)
Se destruirmos no caminho o
conceito de serviço público, com
as boas experiências, em nome de alguém que é desconfiado, porque já declarou,
como o primeiro-ministro que "infelizmente eu não sou funcionário
público"...os principais ministros, parece que alguns são funcionários de
organizações internacionais, mas não são funcionários públicos, portanto há aqui assim o desprezo total por alguma
coisa que marcou - isto não foi nos últimos trinta anos, foi nos últimos
séculos - uma existência racional normativa à nossa convivência como comunidade
política.»
Excertos da entrevista do Professor
José Adelino Maltez à Antena 1, hoje, AQUI. (os destaques são nossos)
***
Acrescentemos apenas que não nos
parece que a adesão deste governo ao conceito de ataque ao serviço público se
trate de uma “cedência” ou seja exclusivamente motivada por um elemento exógeno
como a troika. O princípio ideológico
e preconceituoso contra o funcionalismo público já fazia parte da matriz ideológica
dos que agora encabeçam o Governo da República, mas que nunca encontraram antes
condições favoráveis para o fazer vingar. As imposições da troika vieram apenas criar o ambiente favorável, e o pretexto, para
que as tendências neoliberalizantes de uma ala ideológica do PSD e de alguns do
CDS fossem descaradamente assumidas na (des)governação do país. É de
neoliberalismo que se trata.
Comento, pelo acrescento. Vale o post.
ResponderEliminar