domingo, junho 30, 2013

No princípio eram as agências de "rating".

No princípio eram as agências de rating. Era necessário fazer subir os juros da dívida pública. Era preciso atacar os elos mais fracos de um espaço monetário com problemas genéticos e ao qual não correspondia qualquer união política, um espaço politicamente dividido, um espaço enfraquecido. Animadas não se sabe por que sopro, decidiram actuar. A sua autoridade e o seu poder residem tão só na credibilidade cega que os especuladores, grandes e pequenos, lhe dão. Em função dos ratings por elas atribuídos às empresas e países (à suposta capacidade de estes pagarem as suas “dívidas soberanas”), os especuladores redireccionam e reorientam os fluxos de capital financeiro para lugares que lhes asseguram, segundo acreditam, os mais elevados retornos. Esses fluxos de capital financeiro determinam hoje a graça e a desgraça dos povos. É com o seu domínio e controlo que se preocupa cada vez mais a actual geopolítica e já não tanto com o comando dos territórios (Agnew, 2012: 3).

A atribuição de ratings pelas agências encerra um elevado grau de subjectividade, como aqui se refere. Os ratings são atribuídos não a partir da realidade vivenciada pelos povos, sociedades e nações, mas com base em fórmulas de duvidosa validade científica, ou com base em sabe-se lá o quê – são opiniões, diz-se aqui. Os “sábios” que estão por detrás dessas classificações, não são antropólogos, sociólogos, geógrafos, historiadores, etnógrafos, filósofos, etc., enfim, profundos conhecedores da realidade dos povos. São economistas e financeiros armados de números, folhas de Excel, preconceitos, ideologia, e embriagados na sua hubris - uma espécie de gasparzinhos.

Epílogo

Depois veio a troika, naquele belo dia de sol, e surpreenderam-se com o povo sossegado que encontraram nas esplanadas e com a pacatez de um país que devia estar em crise e que afinal não se comportava de acordo com as suas expectativas. Havia que fazer alguma coisa. O “deboche” não podia continuar.
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Referência

Agnew, John (2012), “Of canons and fanons”, Dialogues in Human Geography, 2012 2: 321

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