domingo, novembro 24, 2013

E agora, o mercado interno chinês: consumir é glorioso!

«O que parece ser novo neste domínio [da globalização da economia] é o aumento exponencial da exportação da cultura de massas produzida no centro para a periferia e com ela das “estruturas de preferências” pelos objectos de consumo ocidental. Está-se a criar assim uma ideologia global consumista que se propaga com relativa independência em relação às práticas concretas de consumo de que continuam arredadas as grandes massas populacionais da periferia. Estas estão duplamente vitimizadas por este dispositivo ideológico: pela privação do consumo efectivo e pelo aprisionamento do desejo de o ter. Pior do que reduzir o desejo ao consumo é reduzir o consumo ao desejo do consumo.
Esta dupla vitimização é também uma dupla armadilha. Por um lado, nem o desenvolvimento desigual do capitalismo, nem os limites do eco-sistema planetário permitem a generalização a toda a população mundial dos padrões de consumo que são típicos dos países centrais

Boaventura de Sousa Santos, Pela Mão de Alice, 9ª ed., Almedina, 2013, Pág. 269
(os sublinhados são nossos)

Dizia bem Boaventura de Sousa Santos, que “as grandes massas populacionais da periferia” estavam “arredadas” das práticas de consumo vigentes no centro, mas não da publicidade suscitadora de novos desejos e de insuspeitas "necessidades", individuais e colectivas. Pois bem, essa realidade, que já muda, irá alterar-se rápida e profundamente. A China ao decidir aprofundar mais a sua política económica no sentido de “mais mercado e menos Estado”, alargando-a ao seu mercado interno, abraça definitivamente a biopolítica. Mais mercado, mais consumo interno, mais população (a China vai relaxar a sua política demográfica antinatalista), mais consumidores, mais contribuintes - esses novos escravos a formar… Mas também, mais poluição, mais consumo de energia, mais consumo de recursos naturais, mais ameaça à biodiversidade, mais, mais, mais… Se enriquecer era glorioso, é agora o consumo que passa a sê-lo. E assim se vai imiscuindo o deus mercado, insidiosamente, em todas as esferas da vida (e da Vida).

O mercado é o fetiche da China, esse país mutante. Comunista e capitalista, neoliberal e consumista.

3 comentários:

  1. "Freixo de Espada à Cinta" fica tão fora de mão, que se me contassem o que se lá passa tinha que perceber primeiro as motivações do mensageiro... é que a realidade é sempre mais complexa, quando se trata da interioridade...

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  2. Caro Rogério,

    Não percebo bem o que quer dizer com “Freixo de Espada à Cinta” ficar fora de mão. Talvez assim seja, mas digo-lhe que a China está bem mais próxima de nós, hoje, do que Freixo de Espada à Cinta. E claro, não me refiro à distância física. Quando ligo a luz, cá em casa, é a China que me entra casa dentro (refiro-me à EDP, que afinal, parece que não é de Portugal, coisa nenhuma, pois em boa parte já pertence ao Estado chinês, só para dar um exemplo), e não consta que por aqui haja algo made in Freixo de Espada à Cinta, mas quanto a made in China, meu caro, até eu me surpreendo por vezes, quando reviro etiquetas… Sabe, é a velha história de "o bater de asas de uma borboleta no Pacífico, causar uma tempestade” cá pelos lados do burgo. Desculpe-me se não sou bom entendedor.

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    1. Tem razão. Isto de passar a correr e deixar um comentário é preciso ter a sorte de o texto não sair rebuscado, confuso, pouco claro. O que eu queria dizer podia fazê-lo de uma forma mais simples: a China é uma realidade distante e complexa, embora nos entre em casa através de muitas coisas que usamos ou consumimos... sobre Freixo, sei vagamente que se vai desertificando e que lá se fazem as boas alheiras... de Mirandela. :))

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