«Na própria cultura contemporânea trava-se uma luta titânica entre os
impulsos domesticadores e os bestializadores, e seus respectivos meios de
comunicação. Seria surpreendente a obtenção de sucessos mais significativos no
campo da domesticação, diante de um processo de civilização em que uma onda
desinibidora sem precedentes avança de forma aparentemente irrefreável (*).»
Peter Sloterdijk, Regras
para o Parque Humano, São Paulo, Estação Liberdade, 2000. pág. 46
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(*) Refiro-me aqui à onda de violência que presentemente irrompe nas
escolas em todo o mundo ocidental, em especial nos Estados Unidos, onde os
professores começam a instalar sistemas de segurança contra estudantes. Assim
como na Antiguidade o livro perdeu a luta contra os teatros, hoje a escola
poderá ser vencida na batalha contra as forças indirectas de formação, a
televisão, os filmes de violência e outros mídias desinibidoras, se não
aparecer uma nova estrutura de cultivo capaz de amortecer essas forças
violentas.
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Miley Cyrus, a fumar "charros" em público ou Justin Bieber apanhado bêbado a conduzir (e não era uma carroça). Dois ídolos globais da juventude estudantil. São domesticadores ou bestializadores?
O escândalo vende. E quanto mais escandaloso melhor. A fórmula é velha e conhecida dos empresários capitalistas da "indústria" da música popular, dita comercial, do espectáculo, do entretenimento, da literatura e doutras artes. Mas adiante, que de uma coisa não há dúvida: aqueles cantores, entre outros, são fenómenos que integram essa "onda desinibidora sem precedentes" que "avança de forma aparentemente irrefreável". São "forças indirectas de formação" contra as quais a escola, entre outras instituições conservadoras, se batem, sem sucesso.