“Os não-lugares são tanto as
instalações necessárias à circulação acelerada das pessoas e dos bens (vias
rápidas, nós de acesso, aeroportos) como os próprios meios de transporte ou os
grandes centros comerciais, ou ainda os campos de trânsito prolongado onde são
arrebanhados os refugiados do planeta. Porque vivemos uma época, também sob este
aspecto, paradoxal: no próprio momento em que a unidade do espaço terrestre se
torna pensável e em que se reforçam as grandes redes multinacionais, aumenta de
volume o clamor dos particularismos; dos que querem ficar só eles na sua terra
ou dos que querem voltar a encontrar uma pátria, como se o conservadorismo de
uns e o messianismo dos outros estivessem condenados a falar a mesma linguagem:
a da terra e a das raízes.”
Marc Augé, Não-lugares, Introdução a uma Antropologia
da Sobremodernidade, 90º, 2007
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A leitura dos Não-lugares tem sido penosa. O texto é
quase intragável. De vez em quando lá aparece um trecho mais inteligível, como o
que se cita acima, em que o autor define o conceito de não-lugar. Ao que
parece, os não-lugares são sobretudo espaços de trânsito, espaços de circulação
e os próprios meios que possibilitam essa circulação. Espaços que rapidamente
consumimos e rapidamente descartamos. Espaços de fluxos, de rápida passagem.
Mas pensando bem, a uma escala mais vasta, a própria Terra - a "nave Terra" que nos transporta - é também um não-lugar! Não está ela, e nós com ela, em trânsito?
Augé refere-se contudo, a um espaço antropológico e não a um espaço astronómico.