
Fica um excerto do texto de Martin
Page, A Primeira Aldeia Global, relativo
ao cerco de cidade de Lisboa (1147), então cidade moura, pelos exércitos de D.
Afonso Henriques, auxiliados por cruzados bretões, ingleses, normandos e
alemães, entre outros:
«Escreveu no seu relato, o capelão dos cavaleiros normandos: “O ânimo
dos nossos homens foi enormemente fortalecido para continuar a lutar contra o
inimigo.” Um grupo de cavaleiros, que, entretanto, tinha ido fazer uma incursão
a Sintra, acabava de regressar para junto dos seus companheiros de cerco,
carregado com o produto das pilhagens.
Enquanto os bretões pescavam na margem sul do Tejo, um grupo de
muçulmanos atacou, matando vários deles e fazendo cinco prisioneiros. Como
represália, os ingleses organizaram um assalto à margem sul, à cidade de
Almada, regressando nessa mesma tarde, com 200 prisioneiros muçulmanos e moçárabes
e mais de 80 cabeças cortadas, o que, segundo então afirmaram, só lhes havia
custado uma baixa. Empalaram as cabeças em lanças e agitaram-nas por cima das
muralhas de Lisboa.
“Vieram ter com os nossos homens, suplicando-lhes que lhes dessem as
cabeças que tinham sido cortadas”, acrescenta o capelão cronista. “Tendo-as
recebido, voltaram para dentro das muralhas chorando a sua dor. Durante a
noite, em quase todas as zonas da cidade, apenas se ouvia a voz da mágoa e o
lamento da saudade. A audácia deste feito transformou-nos no pior terror para o
inimigo.”»
Martin Page, A Primeira Aldeia Global, 6ª ed, Casa
das Letras, 2010, pp. 87-88.
***
Em suma, naquela altura os terroristas éramos nós. (Não
estamos com isto a querer desculpar os imperdoáveis crimes do Estado Islâmico, mas factos
são factos)
Hoje, o Estado Islâmico está a
aplicar tácticas medievais de terror que os ocidentais então usavam sem qualquer
pudor. Mas estamos no século XXI.
Naquele distante ano do século XII, a
cidade sob cerco era Lisboa, hoje é Kobani.