sábado, janeiro 24, 2015

O culto da eterna juventude

Todas as gerações do século XIX aspiraram a ser maduras o mais cedo possível e sentiam uma estranha vergonha da sua própria juventude. Compare-se com os jovens actuais – homens e mulheres – que tendem a prolongar ilimitadamente a sua puerícia e nela se instalam como que definitivamente.

Ortega y Gasset, “Juventud”, El Sol, 9 de Junho de 1927.

Por toda a parte, os mais velhos corriam desnorteados atrás da última moda; de repente, já só havia uma ambição: a de ser «jovem» e de inventar rapidamente, atrás de uma tendência que ontem ainda era actual, uma outra ainda mais actual, mais radical, nunca vista até então.

Stefan Zweig, O Mundo de Ontem, Recordações de um Europeu, Assírio & Alvim, 2005, pág. 331

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No início do século XX, os jovens tentavam parecer mais velhos e respeitáveis. Trajavam quase formalmente. Após a Primeira Grande Guerra instalou-se o culto da eterna juventude: procuramos parecer sempre jovens, independentemente da idade que atravessamos.

Proust, 1887
Quem vivia com lucidez nos anos que sucederam a Primeira Grande Guerra apercebeu-se com grande admiração que se instalara um novo espírito do tempo. Ao invés do que ocorria na Belle Époque, agora todos queriam parecer jovens, inclusivamente os jovens. Antes, tentavam parecer mais velhos e respeitáveis. Vede Proust na sua meninice, como no seu traje já estava presente a corrente que prende o relógio, não fosse o tempo escapar. Já estaria o menino, tão jovem, preocupado com o tempo que se poderia perder? Em que medida o tempo perdido é uma preocupação de um jovem? Não dizem que nessa fase da vida é como se fossemos imortais, exactamente porque a linha que nos serve de limite se encontra para além do horizonte? Não! Proust já trajava assim porque queriam que parecesse respeitável e mais velho do que realmente era, como defendiam os padrões da época.


O culto da juventude que apareceu  a seguir à Primeira Grande Guerra, como foi assinalado pelos espíritos lúcidos de Ortega y Gasset e Stefan Zweig, instalou-se para ficar. A nossa preocupação, volvidos todos estes anos, continua a ser a de parecermos jovens, por muito velhos que sejamos. Richard Branson, 64 anos, com o seu sorriso pepsodent, a sua informalidade e o seu cabelo sempre louro, é disso uma ilustração, assim como Harrison Ford, 72 anos, com o seu brinco jovial, o seu cabelo desgrenhado e a ganga que habitualmente o cobre. E já nem falamos de Madonna, uma menina de 56 anos.

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