Medo de arriscar. A prudência é a lei do bom-senso português.
José Gil*
Quarenta anos de “rotativismo” trouxeram-nos até aqui.
Quarenta anos de “mudança”!
Alguns clamam agora, novamente,
por mudança. Mas que mudança? Já estamos habituados resignados à tal mudança na continuidade
e à tal continuidade na mudança. Na verdade, até aqui sempre houve quem prometesse mudar
alguma coisa para que tudo ficasse na mesma. Houve até quem se limitasse a
esperar na certeza de que um dia, só não sabia quando, dizia ele, haveria de
ser primeiro-ministro. E não é que foi mesmo. Tal é a “mudança”. Vamos ouvir clamar
muito por aí, por “mudança”, agora que as eleições se aproximam. “Mudança!”, reivindica-se
uma vez mais.
A verdade é que Portugal é um
país conservador, ou, por outras palavras, os portugueses são conservadores.
Tão conservadores são que votaram num presidente que tem a “estabilidade” como
um dos supremos valores do seu ideário. Tão conservadores que, passados tantos
anos após o 25 de Abril, colocaram dois salazaristas nos mais altos cargos da nação.
Cheira a caruncho por todo o lado. Na verdade foi sempre o medo de mudança que
imperou. De mudança autêntica. O medo de existir.
Gritai agora! Clamai! Cantai agora o “Acordai!”
PS - Porque agora é que é a hora! Ou será que adormecemos?
***
PS - Porque agora é que é a hora! Ou será que adormecemos?
Mas diga-se de passagem: o que
esperar do país com a sexta população mais idosa do mundo? Audácia? Desejo de
mudança? Ou mais conservadorismo, imobilismo e medo? O que esperar de um país
em que as elites rentistas, mais poderosas e detentoras do mais rico património já se ocuparam em expulsar os mais jovens e audazes para o exterior?
É mais do que certo: aqui,
assistiremos à continuidade na mudança e à mudança na continuidade. Os que nos
trouxeram até aqui vão continuar por aqui, a comandar os destinos da pátria,
naquilo em que ainda comandam, se assim se pode falar, porque na realidade já
muito lhes escapa.
____________________________________________________________________
(*) José Gil, Portugal, Hoje: O Medo de Existir, 7ª ed., Relógio D’Água, 2005,
pág.79
Sem comentários:
Enviar um comentário