sábado, fevereiro 07, 2015

Mudança, mas que mudança?

Medo de arriscar. A prudência é a lei do bom-senso português.
José Gil*

Quarenta anos de “rotativismo” trouxeram-nos até aqui. Quarenta anos de “mudança”!

Alguns clamam agora, novamente, por mudança. Mas que mudança? Já estamos habituados resignados à tal mudança na continuidade e à tal continuidade na mudança. Na verdade, até aqui sempre houve quem prometesse mudar alguma coisa para que tudo ficasse na mesma. Houve até quem se limitasse a esperar na certeza de que um dia, só não sabia quando, dizia ele, haveria de ser primeiro-ministro. E não é que foi mesmo. Tal é a “mudança”. Vamos ouvir clamar muito por aí, por “mudança”, agora que as eleições se aproximam. “Mudança!”, reivindica-se uma vez mais.

A verdade é que Portugal é um país conservador, ou, por outras palavras, os portugueses são conservadores. Tão conservadores são que votaram num presidente que tem a “estabilidade” como um dos supremos valores do seu ideário. Tão conservadores que, passados tantos anos após o 25 de Abril, colocaram dois salazaristas nos mais altos cargos da nação. Cheira a caruncho por todo o lado. Na verdade foi sempre o medo de mudança que imperou. De mudança autêntica. O medo de existir.

Gritai agora! Clamai! Cantai agora o “Acordai!”

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PS - Porque agora é que é a hora! Ou será que adormecemos?

Mas diga-se de passagem: o que esperar do país com a sexta população mais idosa do mundo? Audácia? Desejo de mudança? Ou mais conservadorismo, imobilismo e medo? O que esperar de um país em que as elites rentistas, mais poderosas e detentoras do mais rico património já se ocuparam em expulsar os mais jovens e audazes para o exterior?

É mais do que certo: aqui, assistiremos à continuidade na mudança e à mudança na continuidade. Os que nos trouxeram até aqui vão continuar por aqui, a comandar os destinos da pátria, naquilo em que ainda comandam, se assim se pode falar, porque na realidade já muito lhes escapa.
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(*) José Gil, Portugal, Hoje: O Medo de Existir, 7ª ed., Relógio D’Água, 2005, pág.79

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