A habitual unidade da China e a
perpétua desunião da Europa têm ambas uma longa história. As áreas mais
produtivas da China moderna foram politicamente unidas pela primeira vez em 221
a.C. e assim permaneceram pela maior parte do tempo desde então. A China teve
um só sistema de escrita desde os inícios da literacia, uma única língua
dominante por muito tempo e unidade cultural substancial durante dois mil anos.
Pelo contrário, a Europa nunca esteve,
nem de longe, perto da unificação política: ainda estava repartida por 1000
pequenos estados independentes no século XIV, em 500 estados em 1500 d.C.,
reduziu-se a um mínimo de 25 estados na década de 80 e, no momento em que
escrevo esta frase, já é de novo constituída por cerca de 40. A Europa ainda
tem 45 línguas, cada uma delas com o seu alfabeto modificado, e uma diversidade
ainda maior. Os desacordos que ainda
hoje continuam a frustrar até as mais modestas tentativas de unificação
europeia através da Comunidade Económica Europeia (CEE) são sintomáticos do
arreigado empenho da Europa na desunião.
Jared Diamond, Armas, Germes e Aço, Relógio d’Água
Editores, 2002, página 447.
(destaques nossos)
E ainda hoje, em 2016, como se
comprova pelo actual contexto político europeu, a Europa se empenha na
desunião.
“União Europeia” soa, portanto, a
ironia da história. Jamais resultará. É uma ideia peregrina. São utópicos os
que defendem um aprofundamento da união política da Europa, uma comum federação.
Afinal poderá um cão ser cavalo? Poderá uma Europa que sempre prosseguiu a
desunião política – é essa a sua essência, desde que o Ocidente é Ocidente, desde
o fim do Império Romano – converter-se em união política? Nada mais há de
contranatura. Se algum dia a Europa se tornasse politicamente unida, então
anular-se-ia enquanto tal. Deixaria de ser Europa para passar a ser outra coisa
qualquer. Os que propugnam um aprofundamento político da União Europeia estão a
opor-se a um movimento longo, com mais de um milénio. São Quixotes que investem
contra moinhos de vento ou tentam parar o vento com as mãos.
Poderá haver união na
diversidade? Paradoxalmente, essa parece ser a fórmula. Mas para isso, é
preciso abandonar a ideia de uma união política da União Europeia, como se de um império sediado em Bruxelas se tratasse. Não há povo
que o deseje, apenas os líderes de um eixo que ambiciona exercer a sua
dominação sobre os demais.
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