Afirma Pereira tê-lo conhecido num dia de Verão. Um magnífico dia de Verão, cheio de sol e de vento, e Lisboa resplandecia. Ao que parece, Pereira estava na redacção, não sabia que fazer, o director estava de férias, e ele via-se com o problema de preparar a página cultural, pois o Lisboa passara a ter uma página cultural, e tinham-lha confiado. E ele, Pereira, reflectia sobre a morte. Naquele belo dia de Verão, com a brisa atlântica acariciando as copas das árvores e o Sol a brilhar, com uma cidade que cintilava sob a sua janela, e um azul, um azul incrível, afirma Pereira, de uma limpidez que quase feria os olhos, ele pôs-se a pensar na morte. Porquê? Isso, Pereira não sabe dizer.
Antonio Tabucchi, Afirma Pereira, Publicações Dom Quixote, 2000
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Um livro que devia ser lido pelos
ruis ramos deste mundo, em particular os historiadores, em suma, por aqueles que
ousam omitir a palavra “fascismo” dos fascículos da nossa História. Realmente, admitamos,
a coisa conspurca. Talvez por isso a queiram esconder, mas, o grande problema é
que para além de conspurcar, cheira mal. Ele há nódoas que não se deixam
apagar.
Aquela gente deixou descendência
que caminha connosco. Daí não vem mal ao mundo. O passado ficou lá atrás e temos
de saber viver uns com os outros e respeitarmo-nos. Fazemos parte do mesmo país
e do mesmo povo e há um futuro a construir. Compreende-se que alguns desses descendentes
gostassem de apagar uma parte da história ou de a reescrever de outra forma…É compreensível. Mas não é aceitável.
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