"É muito importante politizar o conceito de
Antropoceno. Uma forma de politização é a que se verifica quando se defende que
esse conceito deve ser substituído por Capitaloceno."
Frédéric Neyrat
(Entrevistado por António Guerreiro, no Público)
Infelizmente os desastres
ecológicos ou a sexta extinção de massa não tiveram início com a ascensão do
capitalismo. Se assim fosse seria fácil resolver o problema: bastaria mudar de sistema
económico.
Maoris "capitalistas", caçando moas na Nova Zelândia |
É certo que o capitalismo,
predatório por natureza, acelerou a degradação dos recursos naturais e dos
ecossistemas, assim como a extinção de espécies. Contudo tais processos, por um
lado, tiveram início muito antes de o capitalismo dominar o planeta e, por
outro, verificaram-se também sob o domínio de outros sistemas económicos. Se não,
então como explicar desastres ecológicos como o desaparecimento do mar de Aral,
a tragédia de Tchernobil ou a desflorestação da Europa Oriental, num tempo e
num espaço dominado por regimes comunistas avessos ao capitalismo? Como explicar
a extinção da megafauna da Nova Zelândia à chegada dos primeiros seres humanos,
cerca de 1000 d.C. (Diamond, 2002: 56) ou a desflorestação da ilha de Páscoa?
Tais ilhas não foram inicialmente colonizadas por capitalistas.
Não, não é o capitalismo. É o Homem.
Antropocénico (ou Antropoceno) é
o termo correcto.
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Referências
Jared Diamond, Armas, Genes e Aço: o Destino das Sociedades
Humanas, Relógio D’Água, 2002, p. 56.
Entrevista de António Guerreiro a Frédéric
Neyrat, “O Asteróide Somos Nós”, Público
https://www.publico.pt/2018/08/08/culturaipsilon/entrevista/elementos-para-uma-nova-ecologia-politica-1840351
[Consultado a 17-08-2018]
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