sexta-feira, agosto 17, 2018

Capitaloceno?!

"É muito importante politizar o conceito de Antropoceno. Uma forma de politização é a que se verifica quando se defende que esse conceito deve ser substituído por Capitaloceno."
Frédéric Neyrat
 (Entrevistado por António Guerreiro, no Público)

Infelizmente os desastres ecológicos ou a sexta extinção de massa não tiveram início com a ascensão do capitalismo. Se assim fosse seria fácil resolver o problema: bastaria mudar de sistema económico.

Maoris "capitalistas", caçando moas na Nova Zelândia
É certo que o capitalismo, predatório por natureza, acelerou a degradação dos recursos naturais e dos ecossistemas, assim como a extinção de espécies. Contudo tais processos, por um lado, tiveram início muito antes de o capitalismo dominar o planeta e, por outro, verificaram-se também sob o domínio de outros sistemas económicos. Se não, então como explicar desastres ecológicos como o desaparecimento do mar de Aral, a tragédia de Tchernobil ou a desflorestação da Europa Oriental, num tempo e num espaço dominado por regimes comunistas avessos ao capitalismo? Como explicar a extinção da megafauna da Nova Zelândia à chegada dos primeiros seres humanos, cerca de 1000 d.C. (Diamond, 2002: 56) ou a desflorestação da ilha de Páscoa? Tais ilhas não foram inicialmente colonizadas por capitalistas.

Não, não é o capitalismo. É o Homem.

Antropocénico (ou Antropoceno) é o termo correcto.
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Referências


Jared Diamond, Armas, Genes e Aço: o Destino das Sociedades Humanas, Relógio D’Água, 2002, p. 56.

Entrevista de António Guerreiro a Frédéric Neyrat, “O Asteróide Somos Nós”, Público 

https://www.publico.pt/2018/08/08/culturaipsilon/entrevista/elementos-para-uma-nova-ecologia-politica-1840351 [Consultado a 17-08-2018]

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