Os homens têm olhado
para o deserto como uma terra estéril, terreno livre para quem o quiser
atravessar; mas, efectivamente, cada colina, cada vale do deserto tinham alguém
que era o seu dono reconhecido e que seria capaz de defender imediatamente o direito
da sua família, do seu clã a esse deserto, contra as transgressões. Até mesmo
os poços e as árvores tinham os seus donos, que permitiam às pessoas que
usassem as segundas como madeira e bebessem livremente dos primeiros, tanto
quanto necessitassem, mas que imediatamente reprimiriam quem tentasse tomar
conta da sua propriedade e explorá-la a ela ou aos seus produtos com outros,
para benefício particular.
T.E.Lawrence, Os Sete Pilares da Sabedoria
Publicações Europa-América, 1989, pp. 85-86
Refugio-me no deserto, neste
momento particular, mas nem o deserto, descubro, é um espaço de liberdade. A
liberdade colide sempre com a propriedade. O território é um espaço apropriado
pelo ser, humano ou não humano. O território, na verdade, faz parte do ser. É a nossa circunstância, um prolongamento do corpo ou
um espaço sem o qual o corpo definha. Eu sou eu e a minha circunstância (Ortega
y Gasset). O território faz parte dessa circunstância que me define.
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