“Analisar o que se passa nos comportamentos dos mais jovens
dá-nos a medida do fracasso do presente. É uma geração de direitos que esqueceu
os deveres, apta para as tecnologias e inapta para o resto, hiper-sensível, egoísta,
que exige mas não dá. É a geração mais protegida de sempre e a mais assustada,
que se quebra à mínima contrariedade, sempre conectada a terminais de
informação e diversão, mas desligada do que importa e incapaz de distinguir o
essencial do irrelevante.
Excesso de população, a miséria, a pobreza, as injustiças
sociais (por exemplo 63 pessoas detêm mais riqueza que 50% da população
mundial), guerras permanentes, precariedade dos recursos naturais, aumento das
doenças mentais e problemas ecológicos são secundários e mero joguete político.
São outros os temas principais da sociedade ocidental: os pelos nas axilas da
filha da cantora Madonna, o novo estatuto jurídico dos animais como membros da
família, homens grávidos, proibição de livros que fazem distinção entre
raparigas e rapazes, negação das diferenças entre masculino e feminino, etc.
O ruído dos debates pós-modernos distrai-nos do essencial e
potencia grandes negócios. No sistema capitalista democrático, a bandeira da
emancipação foi transformada no principal veículo da publicidade e do consumo.”
João Maurício Brás, O Mundo às Avessas: o Manicómio
Contemporâneo, Opera Omnia, 2018, pág. 16.
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Inversões: direitos sem deveres. O acessório tomou o lugar do
essencial. O que era elevado rebaixou-se e o que era baixo, elevou-se. Inversão
de valores, desorientação, alucinação, eis onde estamos. A educação já não é a paideia.
O ensino empacota-se e vende-se, em particular na universidade. A universidade
já não é a Universidade. É toda uma indústria.
Andamos distraídos como sonâmbulos, aos grandes movimentos
do mundo. Entregues aos opiáceos da publicidade e do consumo e aos bufões das
televisões – curiosamente cada canal tem o seu, saltaricando nos programas da
manhã - enredados nas insignificâncias da espuma dos dias.
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“É a geração mais protegida de sempre e a mais assustada,
que se quebra à mínima contrariedade” diz João Brás. São a “geração mais bem preparada de sempre” refere uma campanha publicitária da SIC. Uma bajulação que
esconde uma ironia.
É a geração mais mal preparada de sempre. Mas como em todas
as gerações, a vida vai tratar dela, mais cedo ou mais tarde.
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