sexta-feira, setembro 25, 2020

A geração mais bem preparada de sempre

Analisar o que se passa nos comportamentos dos mais jovens dá-nos a medida do fracasso do presente. É uma geração de direitos que esqueceu os deveres, apta para as tecnologias e inapta para o resto, hiper-sensível, egoísta, que exige mas não dá. É a geração mais protegida de sempre e a mais assustada, que se quebra à mínima contrariedade, sempre conectada a terminais de informação e diversão, mas desligada do que importa e incapaz de distinguir o essencial do irrelevante.

Excesso de população, a miséria, a pobreza, as injustiças sociais (por exemplo 63 pessoas detêm mais riqueza que 50% da população mundial), guerras permanentes, precariedade dos recursos naturais, aumento das doenças mentais e problemas ecológicos são secundários e mero joguete político. São outros os temas principais da sociedade ocidental: os pelos nas axilas da filha da cantora Madonna, o novo estatuto jurídico dos animais como membros da família, homens grávidos, proibição de livros que fazem distinção entre raparigas e rapazes, negação das diferenças entre masculino e feminino, etc.

O ruído dos debates pós-modernos distrai-nos do essencial e potencia grandes negócios. No sistema capitalista democrático, a bandeira da emancipação foi transformada no principal veículo da publicidade e do consumo.

 

João Maurício Brás, O Mundo às Avessas: o Manicómio Contemporâneo, Opera Omnia, 2018, pág. 16.

 

***

Inversões: direitos sem deveres. O acessório tomou o lugar do essencial. O que era elevado rebaixou-se e o que era baixo, elevou-se. Inversão de valores, desorientação, alucinação, eis onde estamos. A educação já não é a paideia. O ensino empacota-se e vende-se, em particular na universidade. A universidade já não é a Universidade. É toda uma indústria.

 

Andamos distraídos como sonâmbulos, aos grandes movimentos do mundo. Entregues aos opiáceos da publicidade e do consumo e aos bufões das televisões – curiosamente cada canal tem o seu, saltaricando nos programas da manhã - enredados nas insignificâncias da espuma dos dias.

***

“É a geração mais protegida de sempre e a mais assustada, que se quebra à mínima contrariedade” diz João Brás. São a “geração mais bem preparada de sempre” refere uma campanha publicitária da SIC. Uma bajulação que esconde uma ironia.

 

É a geração mais mal preparada de sempre. Mas como em todas as gerações, a vida vai tratar dela, mais cedo ou mais tarde.


Sem comentários:

Enviar um comentário

Etiquetas