Os trabalhos têm superado os dias. E não há dias para tantos
trabalhos. Fardos pesados para carregar. Pouca liberdade sobra face a tantos
constrangimentos. Viver é sofrer, já sabíamos. Viver é morrer.
Que soe o coro dos escravos hebreus. Esse do Verdi.
Há falta de tempo por aqui. Tempo livre. Demasiada
preocupação. Demasiados “tenho de fazer isto e isto e isto e aquilo”, “tenho de fazer…”
Não sobra tempo para escrever com a cabeça livre e leve.
É assim que nos calam.
Todos sabemos que o trabalho não liberta. Ou liberta? Claro
que não liberta. Se for em excesso mata. Morrer a trabalhar é absurdo. Viver para
trabalhar é absurdo. Já trabalhar para viver é uma necessidade do homem comum e
de todo o bicho que vive sobre a Terra (não do esclavagista nem do burguês). Ou
acreditam nessa dos pássaros: “Olhai os pássaros do céu: não semeiam, não
colhem, nem guardam em celeiros.” Semeiam de outra forma, colhem de outra
forma, guardam de outra forma – têm de alimentar-se, têm de caçar minhocas e
insectos, têm de alimentar as crias, de zelar por elas, de as guardar, de as
criar.
Enfim, há burgueses que trabalham o quanto baste e ainda
lhes sobra tempo livre para escrevinharem. Há burgueses da escrita. Jornalistas
que querem monopolizar esse privilégio de dar ideias ao mundo (por isso passam o dia a carpir das redes sociais - os Uber desses taxistas da escrita). E há escravos do
trabalho, a quem é vedado por formas enviesadas a liberdade da escrita. Uma
espécie de biopolítica. Coisas do poder, coisas de quem pode para oprimir quem não pode.
Já percebemos por que nos carregam de trabalho. É assim que
nos calam. É assim que nos calcam. É assim que nos escravizam. Enfim, não
durará muito.
Virá o dia da carta de alforria.
Então veremos.
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