Esta ordem do mundo [a mesma de todos] não a criou nenhum dos deuses, nem dos homens, mas sempre existiu e existe e há-de existir: um fogo sempre vivo, que se acende com medida e com medida se extingue.
Heraclito
in, Kirk, G.; Raven, J.;
Schofield, M., Os Filósofos Pré-Socráticos, 6ª ed. Fundação Calouste
Gulbenkian, 2008, p. 205
O fogo está na origem de todas as
coisas. Não somos nós feitos do pó das estrelas? O fogo estará no fim de todas
as coisas. Mas há quem anuncie um universo vazio e infinito em resultado de uma
expansão incessante, em que as estrelas se perderão de vista e o céu dos mundos
se tornará negro, sem pontos de luz. Um universo frio, uma solidão infinita.
Talvez nessa altura se construa uma
abóbada virtual, a envolver o mundo, como num planetário, para que não nos sintamos
sós. Um simulacro de céu estrelado.
***
Ontem no Japão foi empossado o
Ministro da Solidão. Justamente no país do sol nascente. O país que ostenta o
fogo da manhã na sua bandeira. A pátria dos hikikomori. Decerto muitos
japoneses, nas suas cidades luminosas, perderam a capacidade de ver o céu
estrelado. Vivem sós num mundo cada vez mais artificial, nas estruturas e nas
relações.
É-se só em Tóquio. Uma cidade
(área metropolitana incluída) de 30 milhões de habitantes. A maior cidade do mundo. Não
deixa de ser uma ironia. É exactamente na multidão que se encontra a solidão.
É exactamente no Japão que se encontra a solidão.
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