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«A incompreensibilidade do nosso novo cosmo parece-me, em
última análise, a razão para o caos da arte moderna. Sei pouco mais do que nada
sobre ciência, mas passei a minha vida a estudar a arte, e estou completamente perplexo
com o que se passa hoje. Às vezes gosto do que vejo, mas quando leio os
críticos modernos percebo que as minhas preferências são puramente acidentais.
Contudo, no mundo da acção algumas coisas são óbvias - tão
óbvias que hesito em repeti-las. Uma delas é a nossa dependência cada vez maior
das máquinas. Deixaram de ser ferramentas e passaram a dar-nos instruções. Da
metralhadora Maxim ao computador, são, na sua maior parte, meios através
dos quais uma minoria consegue subjugar os homens livres.
Outra das nossas especialidades é a nossa ânsia de destruição. Com a ajuda das máquinas, demos o nosso melhor para nos destruirmos em duas guerras, e ao fazê-lo libertámos uma enxurrada de maldade, que as pessoas inteligentes tentaram justificar com o elogio da violência, «teatros de crueldade» e por aí adiante. Juntemos a isto a memória dessa companheira sombria que está sempre connosco, como o reverso do anjo da guarda, silencioso, invisível, quase irreal – e, no entanto, inquestionavelmente presente e pronta a afirmar-se ao toque de um botão, e teremos de reconhecer que o futuro da civilização não parece muito risonho.»
Kenneth Clark, op. cit., pp. 409-411.
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Se procura o cubismo, o dadaísmo, o surrealismo, enfim, a arte moderna e pós-moderna, não os encontrará por aqui. Esses movimentos artísticos não se contam entre as grandes contribuições da Europa para a Civilização. A arte moderna está num caos. As palavras de Kenneth Clark sobre a actual situação da arte ressoam a decadência de uma civilização e até da Civilização. Estaremos já a viver uma Era crepuscular? Muitas são as vozes a anunciá-lo. A de Kenneth Clark é uma delas. São demasiadas vozes para que fiquemos impávidos e serenos, sem partir para a acção.
Mas talvez já seja tarde. Os novos bárbaros já estão na cidade. E não, não são os imigrantes, nem os refugiados.