João Maurício Brás, O Atraso Português, Modo de Ser ou
Modo de Estar, Guerra & Paz, 2022
µµµµµ
Um livro que todos os adultos portugueses, sejam jovens, maduros ou velhos (sim, há jovens que são adultos e adultos que são jovens, embora a infantilização dos adultos prolifere nos nossos tempos, na civilização ocidental: adultos infantilizados, para não dizer imbecilizados, é, aliás, coisa que não falta) deviam ler para saberem em que país estão metidos, em que povo estão metidos e por que pensam como pensam. E por isso mesmo, um livro que os responsáveis (e irresponsáveis) políticos deviam ler, os que nos governam e os que nos desgovernam.
Desde a Causa das Coisas (um o
melhor livro de Miguel Esteves Cardoso) que não liamos com tanto gosto um livro
sobre o nosso país e sobre nós, os portugueses, embora Miguel Esteves Cardoso
tenha optado pelo humor para nos retratar. João Maurício Brás segue outros caminhos,
da Filosofia à História, passando pela Política, Economia, Sociologia,
Literatura, e por aí fora, apoiando-se em autores gigantes (entre os quais, os nossos gigantes),
com destaque para Antero de Quental. E a sua escrita é clara e acessível ao
comum dos mortais.
Um livro que responde à questão: por que temos a mentalidade que temos? Porque é uma questão mental, aquela que temos connosco mesmos. João Maurício Brás, descansa-nos logo à partida: o atraso português não é ôntico, é estrutural, é mental (mentalidade herdada de séculos e ainda por nós alimentada, sem quase nos apercebermos). Estamos efectivamente presos a uma teia mental da qual é muito difícil libertar-nos, principalmente se não o reconhecermos. Difícil, mas não impossível. As mentalidades também mudam, mas demoram tempo a mudar.
Voltaremos a este livro.
Do livro:
Não há um modo de ser português, identificado num antes,
num agora e para sempre.
Brás, op. cit.,
pág. 80
O atraso como resultado de
características ônticas que explicariam a identidade de alguns povos teve o seu
tempo áureo.
Brás, op. cit.,
pág. 81
O destino de cada povo é, em
muito, o que ele quer e consente que seja, a identidade de um país também é a ideia
de futuro que dele se tem e o que cada um está disposto a fazer.
Brás, op. cit.,
pág. 16
A intransigência para com os políticos e os média, mas
também para connosco, é outro passo incontornável para invertermos essa tendência
de persistirmos em aprofundar a nossa miséria.
Brás, op. cit.,
pág. 16
Sem comentários:
Enviar um comentário