«A ideia de cultura contemporânea pouco tem a ver com cultura. Esta ideia também veio camuflar um problema fundamental das sociedades humanas: o falhanço da redistribuição da riqueza e a relevância da vida digna.
Esqueçamos as desigualdades económicas, a questão da distribuição
da riqueza, os trabalhadores, o povo, a luta de classes. Estas foram
substituídas pelas questões do sexo, da raça, da orientação sexual e de
qualquer ideia de eventual subalternidade.»
João Maurício Brás, Os Novos Bárbaros - A Moral de Supermercado, Opera Omnia, 2021, p. 223.
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Um marxista que se preze não prescinde da divisão da sociedade em classes. A luta de classes para ele é imorredoura e motivada por esse “problema fundamental das sociedades humanas”, problema também ele perene porque jamais haverá uma sociedade sem classes, sem pobres e sem ricos. Isso é um ideal, para não lhe chamar uma utopia. Haverá, por essa razão, sempre chão para a sua luta.
Um marxista que se preze não
confunde o fundamental com o acessório. Não confunde a luta de classes com
outras lutas, acessórias, fracturantes e rendidas ao capital. Para o marxista,
no centro estará sempre o trabalhador e o valor do seu trabalho apropriado pelo
capitalista, e nunca o consumidor. Daqui surge o grande desajustamento com a actual
sociedade de consumo, em que o trabalhador, camuflado pela novilíngua em
“colaborador”, é cada vez mais um consumidor e o capitalista um “empreendedor”.
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P.S. O marxismo cultural é uma contradição nos termos.
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